close

Superquarta deve ter freio no ciclo de alta dos juros no Brasil

Banco Safra espera que o Copom deixe os juros nos atuais 14,75% ao ano na reunião da superquarta desta semana; nos EUA, cenário incerto indica manutenção dos juros

O Federal Reserve deve manter a postura cautelosa que vem adotando nos últimos meses para avaliar o efeito líquido das mudanças nas políticas econômicas sobre a atividade e a inflação | Foto: Getty Images

A taxa básica de juros (taxa Selic) pode parar de subir nesta superquarta, dia 18, quando haverá nova definição sobre os rumos da política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. O mercado chega dividido ao Copom desta quarta-feira, com parte dos investidores precificando uma alta de 0,25pp na Selic para 15%, enquanto a maioria dos analistas espera manutenção em 14,75%, com sinalização de juro alto por prazo prolongado.

Os mercados internacionais refletem nesta semana o aumento da aversão ao risco diante da escalada das tensões entre Israel e Irã, e a expectativa é de que os juros sejam mantidos nos Estados Unidos no intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano.

No Brasil, os dados econômicos, que reforçaram o cenário de moderação da atividade econômica e geraram revisões para baixo nas estimativas de inflação. Na questão fiscal, o mercado avalia a revisão do decreto sobre o Imposto sobre Operações financeiras (IOF) e a medida provisória que altera as regras de tributação sobre investimentos. A proposta também prevê a redução de pelo menos 10% nos gastos tributários de natureza infraconstitucional.

No mercado de commodities, o minério de ferro registrou leve baixa e o petróleo registrou forte valorização no período (+11% na semana passada), dando suporte ao desempenho das ações da Petrobras, que também refletiram expectativas mais favoráveis quanto ao pagamento de dividendos extraordinários.

No Brasil, o mercado repercute positivamente os dados de inflação mais benignos (na ponta baixa das estimativas) e a desaceleração na atividade. Diante desse cenário, o dólar norte-americano desvalorizou 0,48%, cotado a R$ 5,54 e o CDS caiu para 150 pontos (vs. 160 pontos na semana passada).

Saiba mais

Expectativa de fim do ciclo de alta de juros nesta superquarta

Na visão dos especialistas do Banco Safra, os canais de transmissão da política monetária estão funcionando. Os sinais de arrefecimento da atividade ficaram mais nítidos ao longo das últimas semanas, com a estabilização dos serviços prestados às famílias e a retração das vendas no varejo em abril, além do aumento da taxa de inadimplência para pessoa física e jurídica.

Além disso, o elevado diferencial da taxa de juros contribuiu para a valorização cambial nos últimos meses, o que colaborou para a queda dos preços no atacado agrícola e industrial.

Nesta toada, a inflação oficial medida pelo IPCA apresentou dinâmica mais favorável nos últimos meses, inclusive nas métricas de núcleos, reforçando as estimativas do Banco Safra de inflação abaixo do consenso.

Nesse ambiente, o Safra espera que o Comitê de Política Monetária do Banco Central mantenha a taxa Selic em 14,75% ao ano na reunião desta superquarta, e indique intenção de manter a taxa de juros em patamar suficientemente restritivo à frente.

O setor de serviços expandiu 0,2% m/m em abril, com ajuste sazonal, em linha com as expectativas. O único componente que apresentou crescimento na margem foi o segmento de transportes, que avançou 0,5% m/m.

Os serviços prestados às famílias, tipicamente mais relacionados ao consumo pessoal, registraram queda de 0,1% m/m. Esse componente não apresenta expansão relevante há alguns meses e está ligeiramente abaixo do patamar do final do ano passado.

Essa tendência de enfraquecimento da demanda doméstica refletiu-se de forma mais pronunciada nos dados do comércio. As vendas no varejo apresentaram retração de 1,9% m/m no conceito ampliado, com ajuste sazonal, queda essa que reverteu o crescimento observado em março (+1,7% m/m).

Os componentes mais sensíveis ao ciclo de crédito apresentaram contração na margem: veículos (-2,2% m/m), material de construção (-0,4% m/m) e móveis e eletrodomésticos (-0,3% m/m). A concessão de crédito para aquisição de veículos registrou queda de 6,4% em abril deste ano em relação ao mesmo mês do ano passado, refletindo o aumento da taxa de juros e da taxa de inadimplência no segmento.

Dados preliminares do Banco Safra indicam nova queda dos serviços às famílias e das vendas no varejo em maio, o que sugere um fraco desempenho do consumo pessoal ao longo do segundo trimestre.

O arrefecimento da atividade, excluindo commodities, antecipa um ciclo de desaquecimento do mercado de trabalho para o segundo semestre deste ano. A elevada taxa de juros também contribuiu para a valorização cambial ocorrida desde o início do ano. A queda do preço de commodities em moeda local reduziu os preços no atacado, que acumulou deflação de 2,1% nos últimos três meses, segundo o IGP-DI.

Assim, a combinação de arrefecimento do consumo das famílias e a deflação no atacado começaram a reduzir as pressões inflacionárias ao consumidor. Portanto, conforme mencionado na ata da última reunião do Copom, a política monetária “já tem tido impactos no mercado de crédito, nas sondagens empresariais, no mercado de câmbio, nos balanços das empresas”.

Federal Reserve deve manter os juros em meio ao cenário de incerteza

Nos Estados Unidos, a inflação desacelerou de 0,22% em abril para 0,08% em maio, refletindo especialmente a queda nos preços de energia, na esteira do recuo recente do preço do petróleo. No núcleo, que exclui os componentes voláteis de alimentação e energia, a leitura também foi benigna, com o índice passando de 0,24% para 0,13%, abaixo das expectativas de mercado, que giravam em torno de 0,30%.

Apesar do alívio nos dados correntes, o cenário prospectivo permanece incerto, com riscos em ambas as direções. Um reflexo dessa incerteza é a divergência entre as expectativas de inflação de um ano à frente captadas pela pesquisa de confiança do consumidor da Universidade de Michigan e a inflação implícita nos títulos negociados em mercado.

O primeiro fator de incerteza se dá em razão das tarifas comerciais, um risco altista para a inflação. A alta das alíquotas, que já passaram de uma média em torno de 2,5% em fins de 2024 para um patamar mínimo de 10% em abril, tende a aumentar os custos para a produção doméstica e limitar a entrada de produtos estrangeiros no mercado consumidor.

Além disso, as empresas ouvidas pelo Fed no Livro Bege também demonstraram a expectativa de elevação dos seus custos, com parte delas indicando a intenção de repassá-los aos preços finais em três meses. Por outro lado, o mercado de commodities pode exercer pressão baixista para a inflação.

Mesmo que o preço do petróleo tenha caído nos últimos meses, a curva futura continua apontando queda para os próximos doze meses. Os preços futuros de commodities agrícolas também recuaram, o que tende a beneficiar a inflação de alimentos. Esses movimentos devem mitigar parcialmente os efeitos inflacionários das tarifas.

Outro fator de pressão desinflacionária relevante deve vir do mercado imobiliário. Com os juros elevados, os pedidos de crédito imobiliário seguem estagnados, o que tem limitado as vendas de imóveis novos e usados.

Diante desse cenário, os especialistas do Banco Safra simulam uma trajetória para o CPI incorporando os efeitos esperados das tarifas atuais, das commodities e do mercado imobiliário. A projeção indica uma aceleração da inflação para 3,1% nos próximos 12 meses, partindo dos atuais 2,4%. Ainda assim, o grau de incerteza permanece elevado, já que os preços de commodities podem mudar de trajetória futura e as tarifas também podem ser majoradas novamente.

Uma simulação alternativa do cenário inflacionário, substituindo apenas as tarifas pelos valores anunciados no dia 2 de abril e posteriormente adiados, poderia levar essa inflação para perto de 4,5%.

A atividade ainda tem se mantido resiliente, mas as incertezas geradas pelas mudanças nas políticas comercial, imigratória, fiscal e regulatória devem arrefecer o consumo das famílias e os investimentos das empresas no próximo semestre, com repercussão sobre o mercado de trabalho e a inflação. Dessa forma, o grau de incerteza em torno da inflação à frente permanece elevado.

Em meio a isso, o Federal Reserve deve manter a postura cautelosa que vem adotando nos últimos meses para avaliar o efeito das mudanças nas políticas econômicas sobre a atividade e a inflação. Isso é ainda mais importante quando se leva em conta que a taxa de câmbio e os preços do mercado futuro podem ser afetados pelas próprias ações do Fed. Assim, o Safra espera que a taxa de juros continue no intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano na reunião desta superquarta.

CTA Padrão CTA Padrão

Assine o Safra Report, nossa newsletter mensal

Receba gratuitamente em seu email as informações mais relevantes para ajudar a construir seu patrimônio

Invista com os especialistas do Safra