O papel do Sistema Nacional de Fomento no desenvolvimento sustentável do Brasil
Sistema Nacional de Fomento articula políticas públicas e instrumentos financeiros para sustentar a transição do país rumo a um modelo de desenvolvimento mais equilibrado
29/09/2025
O SNF atua para viabilizar projetos de financiamento de longo prazo com participação público-privada em energia renovável, saneamento e mobilidade urbana | Foto: Getty Images
Por décadas, o financiamento de longo prazo no Brasil foi associado quase exclusivamente ao apoio à industrialização e a grandes obras de infraestrutura. O debate evoluiu e o panorama atual é bem diferente. No centro da agenda econômica, social e ambiental está o desafio de conciliar crescimento com preservação e inclusão. Nesse contexto, o Sistema Nacional de Fomento (SNF) se destaca como protagonista, articulando políticas públicas e instrumentos financeiros capazes de sustentar a transição do país para um modelo de desenvolvimento mais equilibrado.
O SNF é formado por 35 instituições financeiras de desenvolvimento, incluindo bancos públicos federais, como o BNDES e o Banco do Brasil, bancos estaduais, agências de fomento regionais, cooperativas de crédito, além da Finep e do Sebrae. Juntas, essas entidades atuam em áreas estratégicas — de infraestrutura a inovação, do agronegócio ao apoio a pequenas e médias empresas — e estão presentes em todas as regiões do país.
Segundo a Associação Brasileira de Desenvolvimento (ABDE), o setor responde por aproximadamente R$ 1 trilhão em ativos totais, com destaque para carteiras de crédito e investimentos orientados para projetos de impacto social e ambiental. Essa capilaridade permite que o financiamento atinja não apenas grandes corporações, mas também produtores rurais familiares, startups de base tecnológica e governos locais.
Agricultura sustentável: financiamento da transição no campo
O agronegócio responde por quase 25% do PIB brasileiro e está no centro da agenda de financiamento sustentável. Ao mesmo tempo em que o setor garante superávits comerciais robustos, também é pressionado a reduzir emissões e preservar biomas como o Cerrado e a Amazônia.
Nesse cenário, o crédito rural sustentável ganhou protagonismo. Programas como o ABC+ (Agricultura de Baixo Carbono), coordenado pelo Banco Central, oferecem linhas de financiamento para práticas como recuperação de pastagens degradadas, plantio direto, integração lavoura-pecuária-floresta e irrigação eficiente.
O BNDES atua como repassador desses recursos, em parceria com cooperativas de crédito e agências estaduais. Segundo a ABDE, os desembolsos para crédito rural sustentável cresceram cerca de 18% em 2024, ritmo superior ao do crédito rural tradicional.
Produtores médios e pequenos têm buscado esse tipo de financiamento não apenas por exigência de compradores internacionais, mas também pela perspectiva de redução de custos e ganhos de produtividade.
Desenvolvimento, infraestrutura e cidade sustentável
O financiamento de infraestrutura sustentável é outro vetor de destaque na agenda econômica, social e ambiental. Historicamente, investimentos em saneamento, mobilidade urbana e energia renovável enfrentaram barreiras pela dificuldade de retorno financeiro imediato e elevado risco regulatório. O SNF tem atuado para viabilizar esses projetos, estruturando modelos de financiamento de longo prazo com participação público-privada.
Segundo dados do BNDES, apenas em 2024 foram financiados projetos de saneamento que beneficiarão mais de 10 milhões de pessoas no Norte e Nordeste, regiões em que a carência de infraestrutura básica é mais acentuada.
Os bancos estaduais de fomento, como o Desenvolve SP e o BDMG (Minas Gerais), têm ampliado sua atuação em mobilidade elétrica e projetos de energia solar em municípios de médio porte, conectando políticas climáticas às demandas locais.
A aposta em cidades sustentáveis inclui desde linhas de crédito para iluminação pública inteligente até apoio a consórcios municipais interessados em estruturar aterros sanitários regionais. Esses projetos, além de impactos diretos na qualidade de vida, contribuem para a geração de emprego local e a valorização imobiliária, criando um círculo virtuoso de desenvolvimento regional.
Indústria e inovação verde: modernização produtiva
Se a agricultura e a infraestrutura se destacam pela escala, a indústria verde é central para a competitividade futura do Brasil. Em um cenário de crescente exigência por critérios ESG em cadeias globais, a inovação tecnológica passa a ser condição de sobrevivência.
Instituições como a Finep e o BNDES lideram programas de financiamento voltados para a modernização produtiva e a descarbonização. Entre os setores mais demandantes estão a siderurgia, a química e a indústria automotiva, que buscam reduzir sua intensidade energética e adotar fontes renováveis.
As startups de base tecnológica ligadas à bioeconomia e à energia limpa já representam uma fatia crescente dos projetos apoiados por fundos de venture capital público-privados. O desafio, destacam analistas, é criar um ambiente de financiamento capaz de reduzir riscos para investidores privados e acelerar a escalabilidade dessas soluções.
Arranjo federativo para o desenvolvimento sustentável
O SNF se diferencia pela sua arquitetura federativa. Enquanto o BNDES atua como grande indutor de crédito de longo prazo, bancos estaduais e agências regionais conhecem de perto as necessidades locais, reduzindo assimetrias de informação e aumentando a eficácia dos programas.
Essa descentralização é considerada estratégica pela ABDE. A associação reforça que “a sustentabilidade do desenvolvimento brasileiro depende da capacidade de levar financiamento adequado a todos os territórios, respeitando suas vocações e limitações ambientais”.
O sistema ganha ainda mais relevância em um cenário de restrição fiscal, em que o investimento público direto tende a ser limitado. O financiamento por meio do SNF funciona como alavanca para atrair capital privado, oferecendo garantias e mitigando riscos em projetos de longo prazo.
Financiamento como catalisador de transformação
Ao integrar crédito, inovação e políticas públicas, o SNF mostra que financiamento não é apenas um mecanismo de suporte econômico, mas um catalisador de transformações estruturais. No campo, promove a transição para uma agricultura de baixo carbono.
Nas cidades, viabiliza saneamento e mobilidade limpa. Na indústria, financia a inovação tecnológica e a competitividade em mercados globais cada vez mais verdes.
A convergência entre desenvolvimento econômico, inclusão social e sustentabilidade ambiental coloca o financiamento como peça central de um novo pacto de crescimento para o Brasil. A missão é complexa: alinhar interesses regionais, restrições fiscais e demandas globais. Mas, ao que indicam os números e a experiência acumulada, o SNF se mostra cada vez mais preparado para liderar essa transformação.