Juros, câmbio e tarifas pressionam resultados das empresas
Análise do Banco Safra sobre os resultados das empresas no 2º trimestre destaca que os juros altos por mais tempo devem encarecer a tomada de dívida de longo prazo
26/08/2025
Empresas com grande dependência do mercado externo, como as dos setores de mineração, celulose, proteína e siderurgia, estão mais expostas ao risco do tarifaço dos EUA | Foto: Getty Images
O cenário macroeconômico atual, marcado por juros elevados, fiscal pressionado, imposição de tarifas no comércio global e volatilidade cambial, tornam o cenário desafiador para as empresas, especialmente aquelas com alta alavancagem financeira ou dependentes de financiamentos para sustentar a operação.
Se por um lado, a política monetária restritiva do Banco Central mostra-se eficaz em arrefecer o avanço dos preços e ancorar as expectativas de inflação, por outro, a taxa Selic em patamar historicamente alto pressiona o fluxo de caixa livre das companhias e encarece a tomada de novos empréstimos, levando-as a focar em operações com margens mais atrativas e limitar investimentos.
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No âmbito fiscal, as projeções do Tesouro Nacional mostram aumento gradual do indicador dívida bruta/PIB, com pico em 2028. Esta projeção reflete a melhora pouco significativa do resultado primário, moderado crescimento econômico e pressão vinda do próprio custo da dívida.
Desse modo, poderemos conviver com curvas de juros em patamares altos por mais tempo, encarecendo a tomada de dívida de longo prazo.
O terceiro desafio a ser encarado são os efeitos das tarifas impostas pelos EUA aos produtos importados do Brasil (aplicada também a vários outros países), que ocorre em um momento de elevada incerteza geopolítica, com impactos notáveis no comércio global.
É válido relembrar que a China e os EUA são os principais destinos das exportações brasileiras, e qualquer impacto em suas economias afetam diretamente o Brasil.
Empresas com grande dependência do mercado externo, como as dos setores de mineração, celulose, proteína e siderurgia, estão mais expostas a esse risco.
Por último, o câmbio se apresenta como um vetor adicional de volatilidade. O real depreciado beneficia exportadores com receitas dolarizadas e custos em reais, como mineradoras, empresas de celulose, proteína e petróleo, mas pressiona setores domésticos com custos atrelados ao dólar, como telecomunicações, alimentos e bebidas, farmacêutico e construção civil.
Além disso, companhias com endividamento em moeda estrangeira e geração de caixa concentrada no mercado local ficam mais vulneráveis a descasamentos financeiros, reforçando a necessidade de políticas de hedge.
Ao mesmo tempo, os efeitos indiretos do câmbio sobre a inflação podem postergar o início do ciclo de flexibilização monetária.
Destaques dos resultados das empresas no segundo trimestre de 2025
A BRF (BRFS3) mostrou resiliência no mercado doméstico, compensando parcialmente os efeitos do embargo internacional com maiores volumes e repasse de preços.
A Nissei (NISS3) sustentou crescimento de receita em medicamentos especiais e ganhos de eficiência operacional, reforçando margens. A Movida (MOVI3) avançou em rentabilidade e geração de caixa com reprecificação de diárias e disciplina financeira, reduzindo a alavancagem, embora a estrutura de capital siga pressionada.
Já a FS Bioenergia se beneficiou da maior moagem de milho e da valorização do etanol e subprodutos, gerando caixa positivo e reduzindo a alavancagem– por um breve período, já que devem iniciar a construção de uma nova planta de etanol.