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Patricia Artoni

Paradoxo da visibilidade: marcas inteligentes movem negócios

Em um mundo onde todos estão gritando desesperadamente por atenção, quem sussurra com propósito claro é quem realmente é ouvido

Marcas inteligentes

Empresas com marcas fortes conseguem precificar melhor seus produtos e serviços, apresentam custos de aquisição de clientes menores e taxas de retenção superiores à média | Foto: Getty Images

Você provavelmente já ouviu frases como “Precisamos aparecer mais”, “Nossos concorrentes estão mais visíveis que nós” ou “Vamos aumentar a frequência de posts para ganhar mais engajamento”. Frases clássicas da crença equivocada de que visibilidade automaticamente se traduz em valor de marca e, consequentemente, em resultados financeiros superiores.

A realidade dos negócios na verdade é de que aparecer sem propósito não apenas desperdiça recursos preciosos, mas pode danificar sua marca e seu desempenho financeiro. Cada interação que seu público tem com sua marca funciona como um depósito ou saque na sua conta bancária de confiança. Posts irrelevantes e comunicação inconsistentes são saques que enfraquecem sistematicamente sua posição no mercado e corroem sua capacidade de gerar valor econômico sustentável.

Vamos examinar os números que realmente importam para qualquer CEO ou diretor financeiro. Marcas que focam exclusivamente em exposição enfrentam custos de aquisição de clientes significativamente mais altos. Por quê? Porque sem diferenciação clara e valor percebido, elas são forçadas a competir apenas por preço e conveniência, transformando seus produtos em commodities e reduzindo drasticamente suas margens.

A baixa retenção de clientes representa outro golpe devastador no desempenho financeiro. Clientes adquiridos, sem conexão emocional genuína com a marca, demonstram maior probabilidade de trocar de fornecedor na primeira oportunidade que considerem melhor. Isso cria um ciclo vicioso onde a empresa precisa constantemente investir em aquisição de novos clientes para compensar a evasão, inflacionando os custos operacionais e reduzindo a lucratividade.

Talvez o impacto mais devastador seja a dificuldade de implementar precificação premium. Empresas sem marca forte dificilmente conseguem cobrar acima da média do mercado, limitando suas margens e capacidade de investimento em inovação, pesquisa e desenvolvimento de produtos superiores.

Verdade seja dita: em um mundo onde todos estão gritando desesperadamente por atenção, quem sussurra com propósito claro é quem realmente é ouvido e, mais importante, quem gera resultados financeiros superiores. Seus clientes não precisam de mais conteúdo saturando seus feeds, eles precisam de conteúdo que ressoe profundamente com seus valores, aspirações e necessidades reais.

Observe os cases de sucesso de diversos setores. A Apple não posta dez vezes por dia no Instagram, mas cada comunicação gera bilhões em valor de mercado. A Netflix não faz promoção todo fim de semana, mas tem uma base de assinantes que paga

voluntariamente por seu serviço mês após mês. A Nubank não precisa gritar sobre suas vantagens em cada comunicação, mas revolucionou o setor bancário brasileiro e alcançou uma das maiores avaliações de mercado da América Latina.

Por que essas empresas conseguem resultados financeiros extraordinários? Porque elas construíram equity de marca, um ativo intangível que trabalha incansavelmente a favor delas, gerando valor econômico sustentável e defendendo suas posições competitivas.

A construção de marca moderna se sustenta em três pilares que impactam diretamente o desempenho financeiro. Primeiro, a confiança reduz custos de vendas, pois clientes confiam nas promessas da marca sem necessidade de verificação exaustiva. Segundo, o alto valor percebido torna clientes menos sensíveis a preços e ofertas concorrentes, uma vez que essas marcas conseguem entregar soluções que transcendem o produto básico. Terceiro, a diferenciação autêntica permite que marcas criem suas próprias categorias, atraiam clientes ideais e construam barreiras naturais à entrada de concorrentes.

O impacto financeiro dessas estratégias é mensurável. Empresas com marcas fortes conseguem precificar seus produtos e serviços com premium, apresentam custos de aquisição de clientes menores e taxas de retenção superiores à média do setor.

Em um cenário econômico cada vez mais competitivo e com margens sob pressão, a construção de marca é uma necessidade estratégica que impacta diretamente a sustentabilidade do negócio. A escolha é clara: você pode continuar gritando na multidão ou começar a sussurrar com propósito. A pergunta que resta é: sua marca está pronta para fazer essa transição estratégica?


Patricia Artoni é professora convidada e coordenadora de Marketing do LabMKT da FIA Business School. Acumula mais de 15 anos de experiência em pesquisa, ensino e extensão em áreas distintas do campo de Marketing tais como: branding, desenvolvimento de produtos e serviços, pesquisa de mercado, UX / CX e estratégia de negócios. Bacharel e mestre em Administração com ênfase em Marketing pela FEA-USP. Doutora em Estratégias de Marketing pela EAESP-FGV. Experiência em setores como telecomunicações e educação

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