O aumento da longevidade, o acelerado processo de envelhecimento da população em países como o Brasil e o gradativo adiamento das aposentadorias têm resultado em um fenômeno social presente em um número crescente de organizações: a convivência de diferentes gerações no ambiente corporativo. O que antes era exceção – profissionais jovens e seniores trabalhando juntos – tem se tornado algo cada vez mais comum.
O resultado desse mix é sempre maior que a soma das partes. Equipes intergeracionais unem a energia e a sintonia com as novidades dos mais jovens com o conhecimento e experiência acumulada dos veteranos. Tal troca cria um ambiente de estímulos e aprendizados mútuos.
Na prática médica, essa conexão entre gerações é valiosa. Médicos mais jovens costumam trazer conhecimento sobre abordagens diagnósticas e terapêuticas baseadas nos mais recentes estudos, impulsionam a adoção de novas tecnologias e tendem a questionar protocolos cristalizados, estimulando revisões e melhorias baseadas em evidências científicas. Já os profissionais de mais idade, com saberes que só o tempo e a vivência proporcionam, têm um olhar crítico apurado para avaliar riscos e benefícios e tomar decisões em situações mais complexas. Os jovens tendem ser mais ousados, como as pessoas que dão um “tibum” na piscina sem pensar se a água estará gelada demais; os mais seniores são mais cautelosos e agem como aqueles que colocam o pé primeiro para sentir a temperatura.
Na medicina precisamos de ambos: do “tibum” que acelera a incorporação de inovações em abordagens e tecnologias (evidentemente sem romper as barreiras de segurança para o paciente) e da cautela de quem tem uma bagagem de casos e aprendizados para antecipar riscos e saber o que pode não dar certo porque já viu dar errado.
Assim, a sabedoria acumulada encontra a visão renovadora; a prudência se alia à agilidade; a tradição se soma à inovação.
Trabalho intergeracional é uma via de aprendizados de mão dupla. Os veteranos perpetuam o seu legado transmitindo seus conhecimentos acumulados em anos de experiência, o que marca pontos valiosos para o desenvolvimento e amadurecimentos dos mais jovens. Estes aportam a ousadia e contribuem com ideias e soluções novas, estimulando os veteranos a não pararem no tempo. Mesmo eu, um médico com experiência que continua gostando muito de tecnologia e coisas novas, de vez em quando recebo um “empurrão” dos mais jovens. Por exemplo, cito minha prática de muitos anos em cirurgia com o robô Da Vinci. Sou certificado desde 2009. Quando o Einstein investiu também no robô Hugo, tive um incentivo extra para buscar essa nova certificação vendo cirurgiões jovens que já estavam usando.
Esse intercâmbio entre gerações é fundamental tanto para que os veteranos não se tornem “obsoletos” como para que os jovens evoluam e possam ser expostos a novos desafios. Na minha equipe, tenho profissionais jovens que foram enriquecendo sua bagagem e hoje já se incumbem de urgências e casos complexos quando estou viajando (ainda que compartilhem o quadro comigo e o que planejam fazer). E, ao longo desses anos, vários jovens da minha e de outras equipes passaram a atuar em outras unidades do Einstein, no processo de expansão da organização, alçando voos mais altos. Ou seja, são novas gerações de talentos que foram preparadas no caldeirão de interações com os seniores.
Ao mesmo tempo é importante reconhecer o médico que, com o avanço da idade, verá diminuir sua produtividade na área assistencial. No Einstein, quando o médico chega aos 70 anos e dedicou boa parte de sua vida à organização, chamamos isso de honorabilidade, porque é uma honra ter contado com a parte mais produtiva de sua carreira. E, se agora a prática assistencial é menos intensa, ele pode contribuir com a formação dos mais jovens em atividades de ensino e nos fóruns das mais diversas especialidades que realizamos rotineiramente.
Em tempos de avanços rápidos na medicina e desafios crescentes na área da saúde, o mix geracional une o melhor de dois mundos: a solidez da experiência e a audácia para inovar. Assim, cultivar a convivência produtiva entre gerações é mais do que desejável – é essencial para garantir aos pacientes um cuidado de excelência.