Segundo dados do Ministério da Previdência Social, em 2024 a dorsalgia (dor na região da coluna) foi a principal causa de afastamentos por mais de quinze dias, seguida de hérnia de disco. Ou seja, apesar do crescimento expressivo de casos associados a transtornos mentais (transtornos ansiosos e episódios depressivos) em relação às estatísticas do ano anterior, os males que causam dores nas costas seguem como importantes fatores que afetam os trabalhadores e as corporações.
Suas causas são variadas e muitas vezes combinadas, entre elas postura inadequada, sobrecarga física, questões ergonômicas, obesidade, sedentarismo e até aspectos emocionais. Isso vale tanto para quem exerce atividades manuais ou de esforço físico como para aqueles que passam o dia sentados à frente do computador sem fazer pequenas pausas para se movimentar. Além disso, com o envelhecimento da população (portanto com mais profissionais maduros na ativa), aumentam os riscos de alterações degenerativas na coluna.
Como observa Dra. Thais Lessa, médica do trabalho e coordenadora médica de saúde corporativa do Einstein, profissionais administrativos, da área de serviços, operadores de linha de produção, entre outros, todos estão sujeitos às dores nas costas, dependendo da exigência física do posto e do preparo do corpo e do ambiente para essas demandas. O home office também merece atenção, porque geralmente a casa não foi pensada como um lugar de trabalho. Muitas vezes, a cadeira não é adequada, a mesa não tem a altura correta e as pausas acabam esquecidas.
Evidentemente, dor nas costas não é um desafio exclusivo do mundo corporativo. Estima-se que 80% da população global tem ou terá pelo menos um episódio do tipo. Mas as empresas podem desempenhar um papel importante. Entre as ações recomendadas pelos especialistas estão:
- Análise ergonômica detalhada de cada função, desde cargos administrativos até operacionais;
- Avaliações físicas funcionais, que identifiquem previamente fragilidades como falta de força, flexibilidade ou mobilidade;
- Programas de fortalecimento muscular, educação postural e incentivo à atividade física;
- Para quem trabalha sentado o dia todo, estimular pequenas pausas a cada uma ou duas horas para andar, se movimentar, sair da postura estática;
- Acompanhamento de fatores que impactam a saúde mental, como sobrecarga de trabalho, falta de clareza das prioridades, conflitos com liderança e pressão excessiva, entre outros. Transtornos mentais podem se manifestar fisicamente;
- Adaptação de função temporária, quando necessário, para que o colaborador permaneça ativo sem agravar a lesão.
A ginástica laboral, apesar de trazer benefícios, não resolve o problema sozinha. Segundo a Dra. Thais, ela tem baixa efetividade na prevenção de dores, embora seja muito útil como um momento de pausa, interação entre colegas, redução de estresse e fortalecimento de vínculos, que também são fatores importantes na saúde dos colaboradores.
Dores que incomodam, mas são pontuais, geralmente se resolvem com uma ida ao pronto-socorro ou ao médico e a prescrição de um medicamento para aliviar os sintomas. Mas, se as dores persistem ou são recorrentes, é necessário buscar avaliação médica cuidadosa para identificar a causa. Na imensa maioria dos casos, o tratamento é conservador, com fisioterapia, medicação e mudanças de comportamento e estilo de vida. O diagnóstico geralmente requer apenas uma boa anamnese e um bom exame físico, e não excesso de exames, o que pode até induzir abordagens incorretas. Muitas vezes, os achados em exames, principalmente os mais sofisticados, não têm relação com a dor. E trata-se algo que não é a causa. Cirurgias de coluna têm indicações bem específicas, mas ainda ocorrem procedimentos desnecessários. Para se ter ideia, dados do Programa de Segunda Opinião em Cirurgias de Coluna do Einstein indicam que, em até 70% dos casos avaliados, a indicação inicial de cirurgia era equivocada.
Dores nas costas impactam a saúde e a qualidade de vida das pessoas e também geram reflexos indesejados nas organizações, com queda de produtividade, absenteísmo, licenças médicas e afastamentos por incapacidade temporária. Observar o que pode ser mudado e melhorado para afastar esse fantasma faz bem para todos. O trabalho pode ser fator de adoecimento ou de promoção da saúde. Trata-se, portanto, de escolher o lado certo dessa questão.