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Eduardo Yuki

Taxa Selic vai subir até 14,75% em maio

Copom deve aumentar a taxa Selic nas próximas duas reuniões até 14,75% a.a. em maio. Mas, a desaceleração econômica pode permitir a redução do aperto monetário no fim do ano

mulher em supermercado

A inflação deve continuar pressionada no primeiro semestre, com os efeitos secundários da desvalorização cambial | Foto: Getty Images

No Brasil, os indicadores continuam sinalizando arrefecimento da atividade em resposta ao menor impulso fiscal no segundo semestre. O comércio ampliado acumulou queda de 2,1% ao longo do quarto trimestre do ano passado, com ajuste sazonal, com destaque para a retração de bens mais dependentes do crédito. A queda do consumo de bens prejudicou a produção industrial, que recuou 1,2% ao longo dos últimos três meses do ano passado, concomitante à redução do nível de utilização da capacidade instalada da indústria de transformação.

O setor de serviços, que apresentava maior resiliência, recuou 0,5% ao longo do trimestre passado. Assim, o indicador que mensura a atividade econômica do BCB acumulou queda de 0,9% nos últimos três meses do ano passado. No mercado de trabalho, a taxa de desemprego permaneceu em patamar historicamente baixo, mas existem indícios de acomodação. Houve um ligeiro aumento da população desempregada e o ritmo de alta do rendimento nominal desacelerou.

Lembrando que a política monetária atua com defasagem em torno de 6 meses sobre a atividade, o arrefecimento do último trimestre do ano passado ainda não capturou plenamente os efeitos do ciclo de aumento da taxa de juros ainda em curso. Os indicadores de confiança dos consumidores e empresários continuaram deteriorando em fevereiro, o que corrobora a nossa projeção de que o PIB real apresentará expansão de 1,5%nesseano,abaixo do consenso.

O resultado primário do governo central acumulou déficit de 0,32% do PIB em doze meses até janeiro, ligeiramente melhor do que o déficit de 0,36% do PIB de dezembro. Incluindo a perspectiva de contingenciamento de R$ 19 bi, esperamos que as despesas do governo passem de 18,7% do PIB em 2024 para 18,9% do PIB em 2025, abaixo da média dos últimos dez anos.

Assim, estimamos déficit primário de 0,6% do PIB para esse ano. Excluindo precatórios acima do limite do teto implementado pelas emendas 113 e 114 de 2021, esse resultado respeitaria o piso inferior da meta.

A inflação deve continuar pressionada no primeiro semestre, com os efeitos secundários da desvalorização cambial e choques ocorridos ao longo do segundo semestre do ano passado. A contenção da demanda doméstica na segunda parte do ano ajudará a diminuir as pressões inflacionárias, suportando a nossa estimativa de 5,2% para o IPCA de 2025.

Dessa forma, a autoridade monetária deverá aumentar a taxa Selic nas suas próximas duas reuniões até 14,75% a.a. em maio. A acomodação da atividade em meados do ano e, consequentemente, uma maior dificuldade de repasse de preços ao consumidor no segundo semestre, poderá levar o BCB a reduzir o nível de restrição monetária ainda no final desse ano.


Eduardo Yuki é Superintendente Executivo de Economia do Banco Safra. Atua há mais de vinte anos no mercado financeiro. Possui mestrado em Teoria Econômica pela Faculdade de Economia e Administração (FEA), da USP.

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