O que é marcação a mercado e por que ela importa?
Além dos títulos de crédito privado, ações, cotas de fundos de investimento e títulos públicos negociados no Tesouro Direto também estão sujeitos à marcação a mercado
06/08/2025
No contexto de títulos de crédito privado e renda fixa, como debêntures, CRIs e CRAs, a precificação a mercado auxilia na gestão de risco e proteção de investidores | Foto: Getty Images
Marcação a mercado é a atualização diária dos preços de títulos de renda fixa e dos ativos de renda variável negociados no mercado secundário. Ou seja: a marcação a mercado ajuda a saber qual é o valor de referência de um papel ou cota caso ela seja comprada ou vendida naquele dia.
Quais fatores afetam a precificação de um título?
A precificação de ativos no mercado secundário é influenciada por uma série de fatores que podem ser classificados como macroeconômicos e microeconômicos. No primeiro grupo, destacam-se as variações nas taxas de juros observadas nas curvas a termo (como a curva DI e NTN-B), as alterações no risco-país e as expectativas do mercado em relação à política monetária e inflação.
Quanto aos fatores microeconômicos, o principal é o risco de crédito do emissor, capturado por spreads de crédito. Ele pode ser impactado por alterações nos ratings atribuídos por agências classificadoras, mudanças nos indicadores financeiros do emissor – como alavancagem, liquidez e cobertura de juros –, além de eventos corporativos relevantes, como reestruturações societárias, emissões relevantes de dívida ou aquisição de novos negócios.
As características estruturais das emissões também influenciam o preço marcado a mercado, como duration, tipos de amortização (bullet, amortizante, com carência), cláusulas de recompra antecipada, tipos de garantias envolvidas (real, fidejussória e alienação fiduciária) e liquidez dos papéis – ou o volume médio de negociações no mercado secundário.
Quais as diferenças para a marcação na curva?
Marcação na curva é uma metodologia de precificação que valoriza o título com base apenas na taxa pactuada no momento da emissão ou da aquisição. Essa abordagem ignora as condições atuais de mercado e pressupõe que o ativo será mantido até o vencimento, sendo valorizado linearmente ao longo do tempo. Na prática, isso significa que o investidor não observa a oscilação diária no preço do ativo, mesmo que esteja sendo negociado no mercado secundário com ágio (quando o preço de aquisição é superior ao valor justo estimado) ou com deságio (quando o preço de aquisição é inferior ao valor justo).

Investimentos sujeitos a marcação a mercado
A marcação a mercado tornou-se obrigatória a partir de janeiro de 2023, após a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) determinar a marcação de títulos de dívida privada na carteira de pessoas físicas. Além disso, a Resolução CVM 175 obrigou os fundos de investimento a adotarem de forma padronizada a marcação a mercado para ativos de crédito privado em carteira.
Além dos títulos de crédito privado, ativos como ações, cotas de fundos de investimento e títulos públicos negociados no Tesouro Direto também estão sujeitos à marcação a mercado.
Quais os desafios da marcação a mercado no crédito privado?
A aplicação da marcação a mercado enfrenta desafios, sobretudo em ativos com baixa liquidez. No mercado de crédito privado brasileiro, alguns papéis não são negociados com frequência, o que dificulta a obtenção de preços observáveis no mercado.
Por que a marcação a mercado importa?
A marcação a mercado contribui para que investidores possam mensurar o valor de um ativo. No contexto de títulos de crédito privado e renda fixa, como debêntures, CRIs e CRAs, a precificação a mercado auxilia na gestão de risco e proteção de investidores.
É importante destacar que, para investidores que permanecem com o título até o vencimento, os efeitos da marcação a mercado tendem a se neutralizar, já que o valor de resgate refletirá o fluxo pactuado na contratação (por exemplo, IPCA + 7,0% a/a). No entanto, para investidores que precisam sair da posição antes do vencimento – seja em uma venda direta ou via resgate em um fundo –, a marcação a mercado garante que o preço pago ou recebido reflita o valor justo do ativo naquele momento, considerando as expectativas e os riscos atualizados.
Fundos imobiliários
Os fundos imobiliários de papel, que investem em CRIs e outros títulos ligados ao setor imobiliário, têm seus valores patrimoniais sujeitos à marcação a mercado de forma mensal.
Em períodos de alta nos juros futuros, esses fundos tendem a sofrer desvalorização patrimonial, enquanto a queda dos juros costuma impulsionar a valorização. Esse movimento, além de favorecer a precificação das cotas, abre espaço para que gestores realizem ganhos de capital por meio da reciclagem da carteira.