Maior Bienal da história de São Paulo deve atrair 800 mil visitantes
36ª Bienal de São Paulo estará de portas abertas até 11 de janeiro, com um custo de R$ 40 milhões e ingressos gratuitos, graças ao apoio de empresas patrocinadoras
04/09/2025
Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera, coberto com fibras trançadas de folha de palmeiras, obra da artista Theresah Ankomah, de Gana | Foto: Cley Scholz
A 36ª Bienal de São Paulo, uma das maiores exposições de arte do mundo, estará de portas abertas de 6 de setembro até 11 de janeiro de 2026 no tradicional Pavilhão Ciccillo Matarazzo, no Parque do Ibirapuera. O público esperado para esta edição é de cerca de 800 mil pessoas.
Apesar da grandiosidade do evento, com 120 artistas participantes, a Bienal se destaca pelo aspecto da inclusão: a entrada é totalmente gratuita. O orçamento total da fundação bienal é de R$ 90 milhões por biênio, e cada edição custa entre R$ 35 milhões e R$ 40 milhões.
Todos os custos são bancados por empresas patrocinadoras e também pelo aluguel para eventos do Pavilhão da Bienal, edifício de arquitetura moderna projetado por Oscar Niemeyer e considerado um patrimônio histórico, pela sua arquitetura com lajes monumentais, pés-direitos duplos e triplos e salões com mezaninos espaçosos.
Este ano o pavilhão foi coberto com fibras trançadas de folha de palmeiras, obra da artista Theresah Ankomah, de Gana, que chama a atenção para a questão ecológica e para o artesanato tradicional ofuscado pelos bens produzidos em massa.
O Banco Safra está entre as empresas que tradicionalmente dão apoio à Bienal. A presidente da Fundação Bienal, Andrea Pinheiro, explica que o número de empresas patrocinadoras passou de 23 para 50 em sete anos. Segundo ela, as empresas percebem a importância da iniciativa em todos os seus aspectos, com destaque para o cultural e educacional.
“Trata-se de uma das exposições de arte mais importantes do mundo, mas com um papel muito importante de inclusão, por ser totalmente gratuita, além de se comunicar com públicos muito diversos e de ter um importante papel educacional”, comenta Andrea.
Na última edição, a Bienal atraiu mais de 70 mil crianças, e nesta edição o número deve chagar a 100 mil. O prazo foi estendido com mais quatro semanas de duração e abrange o período de férias escolares, um momento importante que as pessoas precisam da mais opções de lazer em São Paulo.

Empresas dão apoio à exposição
“O interesse das empresas tem crescido, e os olhos dos patrocinadores brilham com este evento que envolve tantos aspectos importantes da sociedade, além de marcar a cidade e movimentar a sua economia, atraindo visitantes do mundo inteiro”, acrescenta Andrea.
Desde a sua criação em 1951, a Bienal de São Paulo é marcada pela sua constante renovação. Cada novo capítulo de sua história propõe um modo de existir no tempo e no espaço, sempre em diálogo com o contemporâneo.
Homenagem à escritora Conceição Evaristo
A 36ª edição tem como título ‘Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática, parte de um conceito curatorial’, elaborado por Bonaventure Soh Bejeng Ndikung. O tema foi inspirado no poema “Da calma e do silêncio”, da escritora Conceição Evaristo, uma das mais influentes literatas do movimento pós-modernista no Brasil, escrevendo nos gêneros da poesia, romance, conto e ensaio.
O evento se destaca como espaço para reflexão sobre os temas mais importantes para a humanidade. O curador geral da 36ª Bienal de São Paulo, Bonaventure Soh Bejeng Ndikung, afirma que a exposição é uma forma de fazer frente à violência e às crises sociais que se alastram pelo mundo.
Segundo ele, a mostra pretende imaginar novas formas de humanidade, pautadas no encontro e no diálogo entre diferentes grupos sociais e culturais. O curador geral propõe uma escuta atenta das múltiplas formas de humanidade em deslocamentos, encontros e negociações.
Um dos conceitos da Bienal é o de que nenhuma obra se completa sozinha: é preciso criar condições para que os visitantes se aproximem, interajam e encontrem espaço para a troca. Essa construção é feita com materiais educativos, conteúdos digitais e publicações que ampliam as experiências e fomentam a aproximação com a arte contemporânea, assim como sua pesquisa e a formação de público.
“Nada disso seria possível sem o comprometimento conjunto dos nossos parceiros, em especial os órgãos públicos e as empresas patrocinadoras que acreditam na relevância da arte como forma de criar um futuro melhor para todos”, afirma a presidente da Bienal.
36ª bienal se divide em seis capítulos
- Capítulo 1 – Frequências de chegadas e pertencimentos nos convida a olhar para o solo, às potencialidades da terra e às vibrações que sustentam a vida. A palavra “humano” tem origem na palavra “humus”, que significa “terra fértil”. Aqui, o pertencimento se manifesta pela relação com o solo, comunidades e a pulsação sutil da existência. Obras feitas com pedras, raízes e pigmentos naturais refletem sobre a relação entre corpo, terra e memória. Pertencer aparece como prática ativa de escuta e reconhecimento mútuo, envolvendo não apenas humanos, mas também rios, plantas e animais.
- Capítulo 2 – Gramáticas de insurgências concentra trabalhos que abordam diferentes formas de resistência à desumanização. Artistas exploram arquivos coloniais, resgatam narrativas apagadas e propõem novas linguagens de luta. Há vídeos e instalações que tratam do impacto do extrativismo, esculturas que reconstroem histórias silenciadas e obras sonoras que dão voz a cantos de resistência.
- Capítulo 3 – Sobre ritmos espaciais e narrações investiga as marcas deixadas por deslocamentos, migrações e transformações urbanas. Mapas, fotografias e filmes registram desde rotas de migração forçada até mudanças sutis na arquitetura de cidades. Esculturas e instalações reconfiguram espaços de passagem, enquanto trabalhos de som e luz recriam atmosferas de lugares em constante mutação.
- Capítulo 4 – Fluxos de cuidado e cosmologias plurais apresenta obras que rompem com modelos coloniais e patriarcais de cuidado, oferecendo outras formas de relação com o mundo. Instalações combinam elementos como ervas, água e objetos rituais; performances e encontros coletivos abordam práticas de cura e mitologias indígenas, africanas e asiáticas, ressaltando a interdependência entre ecossistemas e culturas.
- Capítulo 5 – Cadências de transformação, a mudança é vista como condição permanente. Obras cinéticas, trabalhos em constante alteração e trabalhos que reinterpretam tradições culturais exploram a transformação como potência criativa. Algumas peças mudam de forma ou conteúdo ao longo dos quatro meses de exposição, convidando o público a acompanhar processos vivos.
- Capítulo 6 – A intratável beleza do mundo encerra o percurso celebrando a beleza como ato de resistência. Pinturas feitas com pigmentos de terra, fotografias de paisagens fragmentadas e esculturas de materiais reaproveitados mostram que o belo também se encontra no inacabado, no que resiste e sobrevive.
Bienal reúne 120 artistas participantes
Ao todo, 120 participantes ocupam o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, enquanto outros cinco integram o programa Afluentes, realizado na Casa do Povo sob curadoria de Benjamin Seroussi e Daniel Blanga Gubbay. Desenvolvida em parceria com a Cinémathèque Afrique, a mostra de filmes Fluxos de Imagens / Imaginários, que também faz parte dos Afluentes, está prevista para acontecer em dois países. Além do auditório do Pavilhão, as sessões serão apresentadas no La Friche la Belle de Mai, em Marselha, como parte da Temporada França-Brasil.
A programação pública, intitulada Conjugações, incluirá debates, performances e encontros, muitos deles realizados em parceria com instituições de diferentes continentes, como 32º East (Kampala); Africa Design School (Cotonou); Afrotonizar (Salvador); Ajabu ajabu (Dar es Salaam); blaxTARLINES (Kumasi); Center for Art, Research and Alliances (CARA) (Nova York); Central Bank Museum (Port of Spain); Festa Literária das Periferias – FLUP (Rio de Janeiro); Fondation H (Antananarivo); Jatiwangi Art Factory (Jatiwangi); Kunsthochschule Weißensee (Berlim); Más Arte Más Acción (Chocó); Metro54 (Amsterdã); SAVVY Contemporary (Berlim); Tanoto Art Foundation (Singapura).
Outro destaque desta edição é o projeto Aparições, uma iniciativa inédita na história da Bienal de São Paulo, desenvolvida em parceria com a plataforma WAVA. Utilizando tecnologia de realidade aumentada, fragmentos, extensões e ecos das obras da Bienal de São Paulo se manifestam no Parque Ibirapuera e em locais específicos ao redor do mundo, escolhidos pelos próprios participantes desta edição – como as margens do Rio Congo, a fronteira entre México e Estados Unidos, parques urbanos de São Paulo ou cidades na África e na Ásia. Pelo aplicativo, os visitantes podem acessar os trabalhos somente nos locais determinados, criando uma experiência sensorial globalmente acessível.
O programa de publicações desta edição é um dos mais ambiciosos da história do evento, com quatro publicações educativas – cada uma delas dedicada a uma Invocação –, correalizadas com o The Center for Art, Research and Alliances (CARA).
As publicações contam pela primeira vez com distribuição internacional, enquanto, no Brasil, a distribuição é gratuita, com foco em professores e educadores. O programa editorial inclui ainda o catálogo da exposição e uma coletânea de ensaios e poemas que dialogam com os conceitos mobilizados pela mostra. Todas as publicações possuem tiragens em português e inglês.
Para além dos números e da grandiosidade desta edição, a 36ª Bienal de São Paulo se estrutura como uma travessia: um estuário onde vozes, memórias e gestos vindos de diferentes margens se encontram e se transformam. Ao percorrer o Pavilhão, o público é convidado a experimentar a humanidade como ação, verbo que se conjuga no plural, e a levar consigo a certeza de que todo encontro pode ser ponto de partida para novas formas de viver juntos.
- Acesse a programação completa da 36ª Bienal de São Paulo em 36.bienal.org.br/agenda.