J.Safra Investment Conference apresenta destaques do setor bancário
Eficiência é o foco do Itaú e Bradesco, enquanto no Banco do Brasil o destaque é a preocupação com a inadimplência no segmento rural
22/09/2025
As tendências de crédito no atacado permanecem estáveis, segundo avaliação dos espececialistas do Banco Safra | Foto: Getty Images
A J. Safra Brazil Conference 2025 reuniu as equipes de gestão e RI das 16 empresas cobertas pelo Banco Safra no setor financeiro. Relatório do banco para investidores reúne os principais tópicos discutidos durante as reuniões com os bancos participantes (ITUB, BBDC, BBAS, SANB, NU e INTR).
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Itaú Unibanco (OP; PT R$46) – No curto prazo, os executivos apontaram alguns sinais iniciais de desaceleração do ciclo de crédito, já que o financiamento de veículos está enfraquecendo antes dos cartões de crédito, o que é consistente com tendências históricas. A carteira de crédito, inicialmente projetada para crescer entre 4,5% e 8,5% A/A em 2025, pode se inclinar mais para o limite inferior, especialmente considerando os efeitos cambiais da valorização do real.
O crédito para PMEs, que tem sido um tema relevante não apenas para o Itaú Unibanco, continua sendo apoiado por programas governamentais (principalmente FGI PEAC e FGO Pronampe), que são boas alternativas às linhas tradicionais de capital de giro e ainda apresentam um caminho saudável de originação e qualidade de ativos.
Eficiência continua sendo um foco central, com movimentos disciplinados em custos e melhorias na rede de agências. O lançamento do Itaú Emps, uma solução totalmente digital e orientada por IA para PMEs, demonstra a capacidade do banco de atender segmentos com abordagem de baixo custo. A IA está cada vez mais incorporada aos processos de CRM e vendas, melhorando taxas de conversão e engajamento dos clientes.
A segmentação de clientes está sendo constantemente refinada, e o segmento de massa deve focar em nichos estratégicos (como jovens adultos, aposentados e servidores públicos, que tendem a agregar maior valor) em vez de buscar apenas crédito limpo, enquanto o segmento Uniclass deve continuar evoluindo sua oferta e fortalecendo a principalidade.
Como mencionado no Itaú Day, o banco aspira dobrar sua carteira de crédito de varejo nos próximos cinco anos, apoiado por iniciativas digitais, mantendo altos níveis de ROE e uma estratégia de crescimento disciplinada.
Para 2026, embora os cortes esperados na taxa Selic possam pressionar algumas receitas, como margens de depósitos e gestão de caixa no atacado, o Itaú estima que o NIM permanecerá resiliente, apoiado pela melhora nos resultados do varejo e pela redução dos custos de hedge de ALM, que têm pesado no desempenho do NII de mercado.
As tendências de crédito no atacado permanecem estáveis, e o banco deve inevitavelmente migrar crédito pessoal sem garantia para consignado privado para evitar churn de clientes. Os executivos fizeram breves comentários sobre mudanças regulatórias, incluindo a reforma do IVA, que deve ser neutra para o setor, mas pode ter efeitos assimétricos entre os participantes, especialmente aqueles com baixa taxa de provisão.
Bradesco (OP; PT R$21) – O Bradesco continua considerando viável encerrar 2025 com um NIM de clientes em torno de 9% e manter esse nível ao longo de 2026, conforme mencionado em calls anteriores. O NII de mercado deve novamente atingir R$1 bilhão em 2025, com comentários de que pode ser ainda maior em 2026, dependendo da estabilidade macroeconômica. Embora a desaceleração econômica seja evidente, a atividade e as receitas de PMEs permanecem resilientes.
Os spreads de crédito do sistema têm se estabilizado após altas anteriores, refletindo um ciclo típico de aperto, desaceleração da demanda e eventual normalização. A qualidade dos ativos permanece estável, com NPLs de 90 dias em 4,1% e sem indicação de que terminará o ano significativamente acima ou abaixo desse nível.
A qualidade do crédito para PMEs está melhorando constantemente, impulsionada por linhas com garantia governamental (principalmente FGI PEAC e FGO Pronampe), que melhoram as condições para os clientes e reduzem RWA. O crescimento dos cartões de crédito é misto, com segmentos de alta renda crescendo acima de 20% A/A, enquanto o crescimento na faixa de baixa renda permanece contido.
Eficiência operacional também é um foco importante, com melhoria na rede e redução das despesas administrativas como percentual das receitas. O Bradesco está priorizando o crescimento em PMEs e o aprofundamento do relacionamento com clientes de alta renda, cujo ROE supera 30% na maioria dos casos.
A otimização do custo de funding continua sendo um fator-chave para o NII, embora os ganhos devam diminuir após 2025. Em seguros, a gestão reiterou o guidance (que, na visão do Safra, é bastante conservador), com potenciais ganhos de eficiência em 2026 decorrentes da maturação das parcerias e aquisições recentes. Os executivos consideram razoável o consenso de lucro de R$24,5 bilhões para 2025, pois não incorpora uma expansão significativa do poder de lucro do 2º trimestre, e 2026 também deve apresentar melhorias no ROE que refletem a execução gradual da estratégia de longo prazo. Banco do Brasil (N; PT R$23) – Janaina Sorti (Head de RI); equipe de RI
Banco do Brasil (N; PT R$23) – Embora a situação permaneça desafiadora no segmento agrícola, com nova deterioração em agosto, a recente Medida Provisória nº 1316 (MP 1316) trouxe uma perspectiva de curto prazo mais construtiva, que pode ajudar alguns produtores impactados a postergar pagamentos, com um período de carência de um ano. A MP 1346 cria duas linhas de crédito: uma de R$12 bilhões via repasse do BNDES com funding barato e taxas atrativas para os participantes do sistema, e outra linha de renegociação que deve trazer alívio de capital para o Banco do Brasil devido ao efeito positivo de redução dos impactos prudenciais dos DTAs.
A MP 1316 é válida por 120 dias, alinhando-se às originações para o próximo ciclo agrícola, e foi desenhada para cobrir a maioria dos clientes impactados, desde que não estejam em recuperação judicial (RJ), desestimulando novos pedidos de RJ. Além da carteira rural, as MPMEs apresentam a segunda tendência mais preocupante. A inadimplência de 10,6% reportada no 2º trimestre deve se deteriorar sequencialmente, já que a formação de NPL continua pressionada pela carteira renegociada.
Diferente da tendência na agricultura, que é concentrada no setor e para a qual foram implementadas medidas de mitigação, os problemas envolvendo MPMEs são generalizados, pois as empresas carecem de opções acessíveis em um ambiente de juros elevados. Além disso, embora programas governamentais tenham ajudado a reduzir a inadimplência no setor agrícola, também houve um efeito de contágio da cadeia de suprimentos do agronegócio. Por outro lado, a gestão mencionou que as novas originações têm mostrado tendências melhores. Vale destacar que a carteira de varejo deve permanecer mais saudável, com forte originação no novo produto de consignado privado sendo o destaque, especialmente devido ao seu melhor nível de inadimplência em comparação ao sistema.
Santander (N; R$35) – O crescimento de crédito do Santander em 2025 deve ficar abaixo do desempenho dos pares, mas ainda é esperado crescimento em linhas estratégicas, como financiamento ao consumo, PMEs e cartões de crédito para alta renda, apesar de um primeiro semestre desafiador, marcado por pressão em crédito consignado e atacado, volatilidade cambial e impactos do IOF.
Os empréstimos para PMEs têm sido impulsionados por empresas de médio porte (R$5 mi–R$30 mi em receita), com quase 30% da carteira agora respaldada por programas governamentais (principalmente FGI PEAC e FGO Pronampe). O NIM de crédito deve permanecer amplamente estável até 2026, com provável queda devido a um mix de portfólio mais seguro. O NII de mercado continua sob pressão, potencialmente em torno de -R$2 bi em 2025, e é improvável que saia do território negativo em 2026 considerando as curvas de juros atuais.
Operacionalmente, o banco está focado em disciplina de custos, com eficiência na rede e otimização de quadro, apoiado por fortes investimentos em capacidades digitais e IA. O CET1 ficou em 11,5% no 2T, o que fornece alguma margem antes de impactos regulatórios. As discussões sobre o nível base de dividendos continuam, e ainda é cedo para afirmar se o ROE vai se expandir em 2026.
No entanto, a equipe reafirmou a confiança da gestão na capacidade do banco de melhorar e abrir caminho para um crescimento mais forte em 2027, dependendo do cenário macroeconômico. A receita de tarifas continua crescendo, liderada por cartões de crédito e cartas de crédito (consórcio). O segmento premium Select está ganhando ainda mais tração, enquanto a rentabilidade do mercado de massa permanece limitada.
O Santander também está explorando opções de financiamento via Pix e migrando carteiras legadas de consignado privado para novos empréstimos consignados privados. No geral, o banco está navegando por desafios de margem e qualidade de ativos no curto prazo, enquanto se posiciona para uma recuperação no médio prazo por meio de crescimento direcionado, transformação digital e disciplina de custos.
Nu Holdings (N; US$14) – O Nubank reportou um ciclo de crédito estável até agora, sem sinais relevantes de deterioração da qualidade de ativos. O aumento em três fases dos limites de crédito está progredindo conforme planejado, direcionado a clientes específicos do mercado de massa, apoiado por melhorias na precisão do modelo de concessão de crédito.
Os empréstimos pessoais apresentam forte potencial de conversão, já que o Nubank detém 13%–14% de participação de mercado. A compressão de yield observada nessa linha reflete um aumento recente e leve no número de clientes de maior renda, segmento com tíquetes maiores e bom retorno ajustado ao risco.
Crédito com garantia e crédito para PMEs estão performando bem, e o cartão UV está sendo renovado para aumentar a atratividade frente aos pares do setor, com conversão ainda em estágio inicial e boas perspectivas de aumentar a penetração do produto na própria base, especialmente porque apenas um terço dos clientes elegíveis possui um cartão UV ativo.
O NU continua líder em concessões de empréstimos com garantia do FGTS, enquanto as originações de consignado público (principalmente SIAPE) cresceram mais de 50% trimestre contra trimestre, apoiadas por campanhas direcionadas.
O crédito consignado privado ainda enfrenta obstáculos operacionais, incluindo atrasos e muitos processos manuais, mas é visto como um bom produto para foco, desde que a escalabilidade seja viável. As despesas operacionais devem continuar sendo geridas de forma eficaz, com crescimento direcionado em pessoal e marketing, especialmente relacionado ao segmento UV.
A IA é central para ganhos incrementais em concessão e eficiência. Questionada sobre uma entrada nos EUA, a empresa afirmou que avalia constantemente a expansão internacional, mas não fez comentários adicionais. No México, o nível de concessão de crédito é considerado confortável, pois acelerou recentemente e manteve um nível saudável de qualidade de ativos. Há uma grande oportunidade no país, já que 40% dos clientes nunca tiveram um cartão de crédito antes e a inclusão financeira deve ser impulsionada.
Além disso, o NU tem pago rendimentos mais altos sobre depósitos em comparação aos incumbentes e considera o nível de yield desses bancos muito baixo e difícil de sustentar. Mesmo após ajustes para baixo no yield (agora mais próximo da TIIE), as saídas foram administráveis, e o baixo LDR deve aumentar organicamente. Uma licença bancária está planejada para 2026, permitindo uma oferta mais ampla de produtos e melhor segmentação.
Inter & Co (OP; US$7) – A equipe de RI O Inter está entregando um crescimento robusto de crédito, com a carteira devendo crescer cerca de 30% ano contra ano em 2025 e potencialmente manter esse nível em 2026, impulsionado por produtos principais, como consignado privado, cartões de crédito, empréstimos com garantia do FGTS, crédito imobiliário e home equity. O crédito não consignado privado teve desempenho inferior recentemente, mas pode reacelerar, já que o Inter observou uma melhora no cenário devido à redução da atividade de correspondentes (pastinhas). Produtos que geram receita de juros estão superando o crescimento geral da carteira, apoiados por ofertas renovadas de parcelamento e financiamento via Pix, ajudando a impulsionar os NIMs.
A qualidade de ativos permanece saudável, com linhas garantidas fornecendo resiliência. O custo de risco deve subir levemente devido a uma abordagem mais conservadora de provisões daqui para frente e também ao mix da carteira. Os modelos de crédito foram reformulados, permitindo maior aprovação de solicitações e limites mais altos, incluindo BNPL e o novo score “Meu Crédito”.
A eficiência operacional continua melhorando, e a relação de eficiência pode cair abaixo de 45% no 4T e caminhar para a meta de longo prazo de 30% (2027). Os custos com pessoal estão sendo bem geridos, e a IA pode contribuir para ganhos adicionais em desenvolvimento e atendimento ao cliente.
O consignado privado está escalando, com a segunda e terceira parcelas indicando taxa de inadimplência de um dígito e ROE acima de ~40% nessas condições. A equipe de política de crédito foi ampliada com a contratação de profissionais mais seniores em São Paulo. O open finance — em vez de apenas inputs de modelos — agora está sendo usado para acionar engajamento.
Olhando à frente, os executivos mencionaram expansão de crédito disciplinada, eficiência operacional e desenvolvimento de produtos orientado por dados como valores centrais. O Inter agora vê sua orientação de longo prazo como alcançável no médio prazo e, embora continue confiante em entregá-la até 2027, seria razoável esperar que a gestão atualize suas aspirações de longo prazo em uma oportunidade futura.