Inflação em 12 meses encosta no teto da meta e BC deve manter juro em 10,5% ao ano
Banco Safra revisa projeção do IPCA de 2024 de 3,8% para 4,1% e destaca impacto do câmbio nos preços ao consumidor
29/07/2024
A variação mensal de 0,30% traduz-se em uma desconfortável inflação de 4,5% no acumulado em 12 meses | Foto: Getty Images
A divulgação do IPCA-15 de julho contrasta com os resultados benignos dos meses anteriores. Não só a variação de 0,30% do índice na comparação mensal ficou acima dos 0,22% projetados pelo Banco Safra e pelo consenso de mercado, como a abertura mostrou uma alta da inflação de serviços, um componente que costuma despertar a preocupação da autoridade monetária.
Itens como passagens aéreas, seguro voluntário de veículo e condomínio tiveram alta maior que a esperada, explicando grande parte da surpresa no anúncio do índice e sobrepondo-se à surpresa baixista dos alimentos, especialmente os in natura, segundo a análise macroeconômica do Banco Safra. O repasse do aumento de combustíveis recentemente anunciado também pareceu ser mais rápido do que previsto.
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Os núcleos de inflação se elevaram na margem, revertendo a moderação dos meses anteriores. A alta anualizada dos serviços subjacentes foi de 4,6%, já depois do ajuste sazonal, contra os 4,3% da leitura anterior. Outros núcleos também aceleraram e o índice de difusão, que reflete o número de itens com aumento de preços, subiu.

A variação mensal de 0,30% traduz-se em uma desconfortável inflação de 4,5% no acumulado em 12 meses. A moderação da inflação esperada nesse período do ano, geralmente decorrente do enfraquecimento do preço dos alimentos, viu-se afetada pelo aumento dos combustíveis e da energia elétrica, com a adoção da “bandeira amarela”.
Com isso, a inflação sobre 12 meses chegou no limite superior da banda de tolerância ao redor da meta.
Dados os desenvolvimentos recentes e a resistência do dólar em descer para mais perto de R$ 5,00, o Banco Safra revisou a projeção do IPCA de 2024 de 3,8% para 4,1%. A depreciação do câmbio deve se transmitir para os preços ao consumidor até o quarto trimestre de 2024, combinando com um período em que tipicamente a inflação acelera por conta da maior demanda por alimentos.
Nesse cenário, a inflação afasta-se ainda mais da meta de 2024, criando certa tensão para o Banco Central, ainda que as projeções da autoridade monetária apontem para uma inflação de 2025 próxima de 3,0% se a taxa Selic for mantida no atual patamar por alguns trimestres.