Ações de transportes e infraestrutura enfrentam cautela de investidor global
Incerteza política, custos de financiamento e compressão de margens devem manter as ações de transporte e infraestrutura sensíveis ao sentimento de risco global
20/10/2025
Previsão de volatilidade até as eleições mantém investidores conservadores com baixa exposição às ações, enquanto players oportunistas buscam oportunidades táticas em empresas defensivas como Localiza, Motiva e Rumo | Foto: Getty Images
Investidores globais estão cautelosos em relação às ações do setor de transportes e infraestrutura, refletindo ceticismo político, incerteza institucional e menor atratividade das ações brasileiras no curto prazo. A análise é dos especialistas do Banco Safra.
Embora empresas de transporte e infraestrutura sejam reconhecidas pela qualidade, o risco político elevado limita fluxos estrangeiros, e casos como Ambipar (AMBP3) e Braskem (BRKM5) aumentaram preocupações com solvência em companhias alavancadas.
O sentimento piorou desde o início de 2025, com destaque para os seguintes fatres, segundo análise do Safra:
- (i) ruído político e erosão institucional antes das eleições;
- (ii) medidas intervencionistas (tributos, tarifas, inflação); e
- (iii) tensões diplomáticas com os EUA.
Ações de transporte devem enfrentar volatilidade até as eleições
Entre as empresas, Localiza (RENT3) e Motiva MOTV3) seguem como nomes mais respeitados, enquanto Rumo (RAIL3) e Ecorodovias (ECOR3) atraem interesse por concessões de longo prazo, mas com dúvidas regulatórias.
Já Simpar (SIMH3), Vamos (VAMO3) e Movida (MOVI3) foram analisadas sob ótica de crédito, com cautela devido à alavancagem.
A visão predominante é de alta volatilidade até as eleições, mantendo investidores conservadores com baixa exposição, enquanto players oportunistas podem ver oportunidades táticas em empresas defensivas como Localiza, Motiva e Rumo.
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Cenário para investimentos no Brasil
Na última semana, o Banco Safra promoveu diversas reuniões com investidores institucionais globais, incluindo fundos hedge, gestores long-only e firmas de investimentos alternativos.
As discussões focaram em atualizar as visões sobre o cenário macroeconômico e político do Brasil, bem como sobre o posicionamento das empresas cobertas pelo Safra.
De forma geral, o tom foi cauteloso, refletindo uma combinação de ceticismo político, incerteza institucional e atratividade reduzida das ações brasileiras no curto prazo em comparação com seus pares.
O Brasil continua no radar global, mas sob escrutínio crítico. Embora a qualidade de várias empresas de transporte e infraestrutura continue sendo reconhecida, o risco político elevado ainda limita os fluxos estrangeiros no curto prazo.
O engajamento dos investidores permanece altamente seletivo, reforçando a importância de governança, previsibilidade e execução consistente para sustentar a confiança institucional.
Sentimento dos Investidores
O sentimento em relação ao Brasil se deteriorou significativamente desde o início de 2025. Investidores que antes esperavam estabilização macroeconômica agora destacam três preocupações principais:
- (i) Erosão institucional e aumento do ruído político antes das eleições de outubro;
- (ii) Medidas intervencionistas como impostos sobre estrangeiros, inflação, tarifas pressionadas e desafios específicos de setores (ex.: alavancagem), vistos como sinais de risco elevado;
- (iii) Fricções diplomáticas entre os EUA e o Brasil, que aumentam os riscos geopolíticos e comerciais.
O consenso predominante é que o Brasil voltou a carregar um desconto político estrutural, limitando o apetite de curto prazo por exposição em ações e levando a maioria dos investidores a adotar uma postura de espera.
Percepções específicas por empresa
As percepções variaram significativamente entre as empresas cobertas. Localiza (RENT3) e Motiva (MOTV3) continuam sendo os nomes mais bem compreendidos e respeitados entre os investidores globais.
As conversas se concentraram em disciplina de avaliação e entrega operacional, com fundos de longo prazo mantendo exposição a esses negócios de alta qualidade, dado o menor nível de alavancagem em comparação com os pares e o histórico de execução mais forte.
Rumo (RAIL3) e Ecorodovias (ECOR3) atraíram atenção específica de investidores institucionais maiores devido aos seus fluxos de caixa ligados à infraestrutura e concessões de longo prazo.
No entanto, persistem dúvidas sobre ajustes tarifários e previsibilidade regulatória. A Ecorodovias, em particular, foi vista por fundos táticos como uma oportunidade de negociação, dada sua sensibilidade à volatilidade macroeconômica.
Enquanto isso, Simpar, Vamos e Movida foram discutidas principalmente sob a ótica de crédito, após recentes roadshows internacionais de dívida realizados pelas respectivas gestões.
O feedback foi moderadamente cauteloso, com investidores apontando para alavancagem elevada e vulnerabilidade de lucros em um ambiente prolongado de juros altos.
Visão de mercado e implicações táticas
A visão dominante entre os gestores de ativos é que a volatilidade permanecerá elevada durante o ciclo eleitoral presidencial, em 2026. A combinação de incerteza política, custos de financiamento elevados e compressão de margens deve manter as ações de transporte e infraestrutura sensíveis ao sentimento de risco global.
Investidores conservadores e long-only provavelmente continuarão subalocados até que haja maior visibilidade institucional. Por outro lado, investidores oportunistas e soberanos podem ver a atual volatilidade como um ponto de entrada tático, especialmente em empresas com fundamentos defensivos e perfis de crescimento sustentável, como Localiza, Motiva e Rumo.