Projeções para os frigoríficos brasileiros diante do tarifaço de Trump
Safra espera impactos negativos das tarifas sobre as operações de carne bovina e suína nos EUA; banco mantém a recomendação compra para JBS
18/07/2025
A demanda doméstica está robusta, e os preços da carne bovina, em média, aumentaram 23% na comparação anual no segundo trimestre de 2025 | Foto: Getty Images
O banco Safra espera resultados neutros para JBS (JBSS32) e Minerva (BEEF3) neste trimestre. As operações de carne bovina devem apresentar margens mais pressionadas na comparação anual, já que os custos do gado superaram os preços da carne, apesar da demanda global ainda sólida.
Além disso, nos EUA, o Safra espera alguns impactos negativos das tarifas sobre as operações de carne bovina e suína. Em relação à carne de frango, o banco vê um trimestre melhor para a América do Norte, já que os spreads permanecem bastante sólidos, enquanto as restrições de exportação relacionadas ao surto de influenza aviária altamente patogênica (IAAP) no Brasil devem pesar sobre os resultados. O Safra mantém a recomendação compra para JBS (top pick) e Neutra para BEEF3.
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JBS
O Safra espera resultados fracos da JBS devido à piora das margens nos negócios de carne bovina e na Seara, enquanto a Pilgrim’s Pride (PPC) e a carne suína nos EUA devem permanecer sólidas. Os fundamentos de mercado continuam indicando uma demanda global sólida por proteínas, com spreads ainda mostrando uma tendência melhor para aves e suínos.
O ciclo do gado nos EUA provavelmente continuará pressionando as margens da carne bovina, enquanto as proibições relacionadas à IAAP no Brasil devem impactar negativamente os números da Seara. Em uma nota mais positiva, os spreads de carne suína e de frango nos EUA permanecem resilientes, com preços em alta na comparação anual e preços de grãos comportados.
O Safra espera uma geração de fluxo de caixa livre de US$871 milhões (um rendimento de 12,1% considerando os últimos doze meses).
JBS Beef América do Norte
O Safra espera um trimestre fraco para esta unidade de negócios devido a margens negativas, apesar da demanda sólida por carne bovina. Apesar de (i) a sazonalidade geralmente positiva e (ii) o fato de que os spreads da carne bovina apontam para uma leve melhora sequencial no 2T—com base nos preços de mercado do gado e da carne bovina (+3%) e nos dados do Hedger’s Edge (+8%) —, o Safra acredita que a margem da divisão deve cair levemente na comparação trimestral (-24bps) devido à maior volatilidade intratrimestral e tarifas (principalmente relacionadas à China).
Além disso, considerando os dados semanais recentes dos Estados Unidos sobre o abate de vacas como percentual do total, parece que a retenção de novilhas está em andamento, o que deve manter um cenário desfavorável para os frigoríficos. Como resultado, o Safra espera receitas líquidas de US$6.592 milhões (+10% A/A), com EBITDA ajustado de -US$119 milhões (revertendo os US$29 milhões do 2T24), e margem EBITDA ajustada de -1,8% (-228bps A/A).
JBS Austrália
O Safra espera um desempenho sólido na unidade de negócios da Austrália, sustentado por fundamentos de mercado favoráveis, já que o ciclo do gado australiano permanece positivo e o negócio de carne bovina representa a maior parte desta unidade. No entanto, espera margens mais apertadas, principalmente devido a bases de comparação difíceis. Portanto, o banco projeta receitas líquidas de US$1.701 milhões (+3% A/A), com EBITDA ajustado de US$170 milhões (-25% A/A), e margem EBITDA ajustada de 10,0% (-367bps A/A).
JBS EUA Suínos
Os spreads de preços entre carne suína e grãos (média ponderada entre milho e soja) permanecem favoráveis, o que sustenta uma visão positiva para este segmento, indicando que a JBS deve continuar apresentando margens saudáveis. No entanto, os mesmos efeitos esperados devem impactar as margens da carne bovina nos EUA (volatilidade e tarifas) e também devem afetar as margens da carne suína e gerar alguma pressão sequencial.
Como resultado, o Safra espera receitas líquidas de US$2.227 milhões (+3% A/A), com EBITDA ajustado de US$256 milhões (+7% A/A), e margem EBITDA ajustada de 11,5% (+39bps A/A).
Pilgrim’s Pride
O desempenho da empresa deve ser sólido neste trimestre devido a margens favoráveis. No entanto, os produtores de frango dos EUA enfrentam certos problemas relacionados à genética, o que impactou a produção de aves e, consequentemente, os volumes dos frigoríficos, e o Safra não vê melhora no curto prazo. Contudo, o aumento de preços deve mais do que compensar os volumes menores neste trimestre. Como resultado, o banco espera receitas líquidas de US$4.647 milhões (+2% A/A), com EBITDA ajustado de US$813 milhões (+4% A/A), e margem EBITDA ajustada de 17,5% (+32bps A/A).
Seara
O momento positivo da Seara deve perder força, pois esperamos uma contração sequencial de margem. Além disso, o caso de surto de influenza aviária altamente patogênica (IAAP) em maio provavelmente impactará negativamente este trimestre para a JBS, afetando as exportações de frango e possivelmente os frigoríficos, que podem ter que redirecionar produtos para o mercado doméstico brasileiro, levando a um excesso de oferta no curto prazo.
Portanto, o Safra espera receitas líquidas de R$12.175 milhões (+5% A/A), com EBITDA ajustado de R$2.009 milhões (-1% A/A), e margem EBITDA ajustada de 16,5% (-92bps A/A).
JBS Brasil
Apesar do aumento significativo no preço do boi gordo neste trimestre, atingindo R$315,59 por 15kg (+39% A/A), a demanda global e doméstica brasileira sustentou preços mais altos da carne bovina no segundo trimestre de 2025, mostrando uma leve melhora nos spreads tanto para o mercado interno quanto para exportações. Além disso, as exportações brasileiras de carne bovina atingiram volumes recordes nos três meses do 2T25.
Portanto, o Safra espera uma receita sólida de R$20.236 milhões (+30% A/A), com EBITDA ajustado de R$1.012 milhões (14% A/A), e margem EBITDA ajustada de 5,0% (-259bps A/A).
Consolidado
O Banco Safra espera receitas líquidas de US$20.563 milhões (+7% A/A), com custo de produtos vendidos (COGS) aumentando 18% na comparação anual. Como resultado, o lucro bruto deve atingir US$2.822 milhões (-5% A/A), com margem bruta de 13,7% (-170bps A/A). Apesar do maior custo dos produtos vendidos, o Safra espera uma melhora nas despesas com as despesas comerciais, gerais e administrativas (SG&A), como percentual das vendas, de 118bps A/A, o que deve compensar parcialmente os efeitos nas margens consolidadas.
Portanto, o Safra espera EBITDA ajustado de US$1.654 milhões (-13% A/A), com margem EBITDA ajustada de 8,0% (178bps A/A). Além disso, projeta melhora de 30% nos resultados financeiros líquidos devido à redução do nível de endividamento (apesar das taxas de juros mais altas) e menor impacto cambial e de marcação a mercado (MTM), o que deve levar a um lucro líquido de US$395 milhões (+32% A/A) e margem líquida de 1,9% (+37bps A/A).
Por fim, o Safra espera um fluxo de caixa livre (FCL) de US$871 milhões (um rendimento de 12,1% considerando os últimos doze meses).
Minerva
Vendas fortes impulsionadas pelo aumento de capacidade dos ativos adquiridos, mas preços mais altos do gado pressionam os spreads A/A. A demanda global sólida continuou impulsionando o crescimento da receita, mas os custos do gado superaram os preços da carne bovina e devem levar a spreads menores A/A.
O Brasil deve registrar volumes mais fortes devido à demanda robusta, tanto no mercado interno quanto nas exportações, à medida que a empresa acelera os ativos adquiridos recentemente.
Os volumes da Argentina devem melhorar A/A, também principalmente devido ao ativo adquirido da Marfrig, enquanto as condições macroeconômicas estão gradualmente melhorando. O desempenho da Colômbia e do Paraguai também deve melhorar após a abertura de mercados comerciais com China e EUA, respectivamente.
Além disso, o negócio de cordeiro da Austrália está mostrando melhorias consistentes. No entanto, os fundamentos de mercado apontam para um cenário mais desafiador para o spread da carne bovina, o que leva o Safra a esperar margens mais apertadas A/A neste trimestre. Por fim, o banco espera um fluxo de caixa livre (FCL) de -R$684 milhões (ainda um rendimento positivo de 8,7% considerando os últimos doze meses), principalmente devido ao maior capital de giro.
Mercado e carne no Brasil
A demanda doméstica está robusta, conforme o IPCA mostra que os preços da carne bovina, em média, aumentaram 23% na comparação anual no segundo trimestre de 2025. Além disso, os volumes de exportação de carne bovina brasileira registraram números recordes no período, enquanto os preços de exportação melhoraram gradualmente na comparação sequencial.
Enquanto isso, a forte demanda por gado levou a um aumento significativo no preço do boi gordo (+39% A/A). Como resultado, o Safra espera que os volumes (incluindo os ativos adquiridos da Marfrig) aumentem 33% A/A com preços médios da carne bovina em alta de 29% A/A.
América Latina exceto o Brasil
As condições macroeconômicas da Argentina estão melhorando e o Safra espera que os volumes da Minerva aumentem, principalmente devido à aceleração da planta adicional adquirida.
O desempenho da Colômbia também melhorou após o país obter licenças para comercializar carne bovina com a China, o que deve impulsionar um crescimento sólido na região para a Minerva, já que o Safra projeta volumes 60% maiores A/A.
Os volumes do Paraguai também devem melhorar A/A e sequencialmente, principalmente devido à maior demanda dos EUA, enquanto os volumes do Uruguai devem permanecer estáveis A/A seguindo tendências sazonais.
O negócio de cordeiro da Minerva representa uma parcela muito menor dos resultados consolidados, mas o Safra espera volumes levemente maiores A/A na Austrália, enquanto o negócio no Chile não deve ter impacto material considerando seu tamanho de produção.
Consolidado
Preços mais altos do gado devem levar a uma compressão das margens da Minerva na comparação anual, embora os spreads da carne bovina melhorem ligeiramente na comparação sequencial. Esperamos um lucro bruto consolidado de R$2.242 milhões (+35% ano a ano), com uma margem bruta de 18,8% (-288 pontos-base ano a ano).
Desde o ano passado, a empresa melhorou os custos fixos como percentual da receita líquida, e esperamos que essa tendência continue neste trimestre. Como resultado, o Safra projeta um EBITDA ajustado de R$1.037 milhões (+45% ano a ano), com margem EBITDA ajustada de 8,7% (-59 pontos-base ano a ano).
Abaixo do EBITDA, o banco esperamos um agravamento nos resultados financeiros líquidos devido ao maior nível de alavancagem da empresa. Assim, o Safra projeta um lucro líquido ajustado de R$20 milhões (-73% ano a ano), com margem líquida ajustada de 0,2% (-81 pontos-base ano a ano). Por fim, espera um fluxo de caixa livre (FCF) de -R$684 milhões (ainda com um rendimento positivo de 8,7% considerando os últimos doze meses), principalmente devido ao aumento das necessidades de capital de giro.