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Copom deve manter juro recorde de 15% ao ano

Ciclo de redução de juros só deve começar no início de 2026, segundo os especialistas do Banco Safra; nos Estados Unidos, Federal Reserve pode promover novo corte em dezembro

Os dados de setembro e outubro reiteram o cenário do Banco Safra de arrefecimento da atividade econômica alinhado com a política monetária restritiva | Foto: Getty Images

Os indicadores econômicos recentes confirmam o cenário de desaceleração, mas os especialistas avaliam que a atual taxa de juros de 15% ao ano só deve começar a cair no início de 2026. O comitê de Política Monetária do Banco Central volta a se reunir nesta semana, mas a expectativa é que que os juros sejam mantidos no atual patamar de 15% ao ano. A decisão será anunciada na tarde desta quarta-feira, dia 5.

A PNAD Contínua de setembro confirmou os sinais de perda de dinamismo no mercado de trabalho. O principal sintoma desse enfraquecimento foi a destruição de vagas, com a população ocupada recuando 106 mil no mês e acumulando queda de 230 mil nos últimos dois meses, com ajuste sazonal. A taxa de desemprego subiu de 5,8% em agosto para 5,9% no mês passado, também ajustada sazonalmente. A alta da desocupação foi suavizada pela queda da força de trabalho, que recuou pelo quarto mês seguido.

A concessão de crédito para pessoa física cresceu apenas 0,2% m/m em setembro em relação ao mês anterior, acumulando queda de 0,7% t/t no terceiro trimestre, na série dessazonalizada. Além disso, o comprometimento de renda com serviço da dívida passou de 27,9% em julho para 28,5% em agosto, maior patamar da série histórica. Assim, o fluxo líquido de crédito continuou recuando, o que limita as decisões de consumo das famílias.

Por outro lado, a confiança do consumidor mostra sinais de recuperação gradual, sustentada pela queda da inflação. Ainda assim, o ímpeto de consumo deve ser limitado devido ao elevado grau de endividamento das famílias.

Os modelos de acompanhamento diário (trackings) do Banco Safra sugerem retração do comércio ampliado e dos serviços prestados às famílias em setembro e outubro.

Indicadores mostram desaceleração da economia

Os indicadores de confiança empresariais divulgados referentes a outubro corroboram o diagnóstico de demanda contida. Indústria, construção e serviços permaneceram em patamar “pessimista”.

A indústria acumula sete resultados negativos no ano e registra estoques elevados, enquanto a construção manteve a tendência de queda desde o início do ano e os serviços permanecem em patamar baixo.

No comércio, a leve melhora nas expectativas para o fim de ano não altera a percepção conservadora sobre a demanda. Diante desse ambiente, a baixa confiança dos empresários antecipa arrefecimento adicional do mercado de trabalho para os próximos meses.

Copom deve manter juros em 15% ao ano

Em resumo, os dados de setembro e outubro reiteram o cenário do Banco Safra de arrefecimento da atividade econômica alinhado com a política monetária restritiva.

O Safra estima expansão do PIB real de 2,1% em 2025 e 1,6% em 2026, abaixo do ritmo potencial, já incluindo a perspectiva de redução da taxa Selic somente a partir de janeiro do próximo ano.

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Nos EUA, juro deve voltar a cair em dezembro

O Federal Reserve (Fed) reduziu novamente a taxa básica de juros da economia em 0,25 p.p. na última quarta-feira. As taxas passaram para o intervalo entre 3,75% a.a. e 4,00% a.a.

A decisão já era amplamente esperada pelo mercado e consistente com a sinalização de que, após a retomada do processo de flexibilização monetária em setembro, ainda haveria ao menos mais um corte neste ano.

O comunicado da decisão destacou o ritmo moderado do crescimento econômico, a desaceleração do mercado de trabalho e a inflação ainda um pouco elevada.

Um destaque da reunião desta semana foi a presença de dois votos dissidentes em direções opostas. Essa é a terceira reunião consecutiva em que ocorre ao menos uma divergência, o que não é muito comum.

Segundo o presidente do Fed, Jerome Powell, as divergências refletiram diferenças de percepção de risco e projeções dentre os membros do comitê.

Além disso, dentre os integrantes do colegiado haveria um sentimento crescente em favor de esperar um pouco antes do próximo movimento.

De forma explícita, Powell afirmou que uma nova redução em dezembro está longe de ser garantida, o que os especialistas do Banco Safra interpretam como possibilidade de uma pausa na próxima reunião.

Ainda assim, as indicações do presidente do Fed são de que os próximos movimentos continuam sendo de corte de juros. Em sua fala ele avaliou que é razoável a hipótese de que as tarifas comerciais levem a apenas uma mudança de nível de preço e não uma fonte de inflação persistente.

O fato de ele destacar a desaceleração do emprego tende a dar força para essa possibilidade, já que em um mercado de trabalho apertado os salários poderiam ter que subir na sequência de um aumento do nível de preços, pressionando ainda mais o custo das empresas e, consequentemente, a inflação.

Efeitos das tarifas na economia dos americana

Ele ainda observou que, sem os efeitos das tarifas, a inflação já estaria próxima da meta de 2%. Dessa forma, com a expectativa de que o efeito das tarifas se dissipe, a inflação tenderia a convergir para a meta ao longo do tempo. Isso, somado ao maior risco de piora no mercado de trabalho, tende a prescrever uma política monetária mais frouxa

O Fed deve dar sequência ao ciclo de redução da taxa de juros, mas existe uma chance de que esse movimento não ocorra na próxima reunião.

A decisão será influenciada pela grande quantidade de dados que serão divulgados até lá, caso o shutdown seja encerrado a tempo de os órgãos estatísticos retomarem suas atividades e publicarem as informações do período.

Ainda assim, os especialistas do banco Safra esperam que haverá condições de cortar em dezembro, dada a provável continuidade da desaceleração do mercado de trabalho e limitação das pressões inflacionárias.

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