Onde investir após a manutenção dos juros no Brasil e nos Estados Unidos
Confira a análise dos especialistas do Banco Safra sobre o cenário para investimentos após a manutenção das taxas de juros no Brasil e nos Estados Unidos
31/07/2024A inflação oficial medida pelo IPCA acumula alta de 4,5% em 12 meses, batendo no teto da meta do BC | Foto: Getty Images
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa básica de juros (taxa Selic) em 10,50% ao ano, conforme esperado pela ampla maioria dos analistas do mercado financeiro.
Além de manter a taxa pela segunda reunião seguida, o Copom elevou o tom de cautela apontando a “desancoragem das expectativas de inflação e o câmbio” em seu balanço de riscos, mas citou horizonte relevante de 18 meses com inflação em 3,2%, postura que pode não ser suficiente para aliviar a pressão na curva de juros e no câmbio.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve também voltou a decidir pela manutenção da taxa de referência dos juros entre 5,25% e 5,50% ao ano. Mas indicou que está a caminho da redução dos juros, a menos que o progresso da inflação seja interrompido. Na Europa, o BC da Inglaterra deve decidir juros e a expectativa fica para um corte de 0,25 ponto percentual na taxa.
Neste cenário, os especialistas do Banco Safra destacam as melhores oportunidades de investimento de acordo com o perfil e objetivos de cada investidor (veja o vídeo).
A manutenção dos juros nos níveis restritivos atuais implicam um aperto das condições financeiras nos próximos meses, com menos concessão de crédito no restante do ano.
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Três classes de ativos financeiros para o atual cenário de juros
No atual cenário de juros ainda elevados, os estrategistas de investimentos do Safra apontam as melhores recomendações de ativos para a diversificação da carteira, sempre com segurança e de acordo com o perfil de cada investidor. Três classes de investimentos se destacam nas recomendações:
- Aplicações financeiras indexadas à Selic e CDI, especialmente as que oferecem isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas.
- Ativos financeiros indexados à inflação ou títulos de bancos – que pagam inflação mais um cupom de juros prefixados com taxas atrativas.
- Diversificação internacional focada em produtos atrelados ao S&P, principal índice da bolsa dos EUA que reúne as 500 maiores empresas americanas de diferentes setores da economia global, como tecnologia, Health Care e Financeiro.
Comunicado do Copom
“Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”, destaca o comunicado do Copom.
Confira a íntegra do comunicado que justifica a decisão de manter a taxa Selic em 10,50% ao ano:
“O ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza sobre os impactos e a extensão da flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e sobre as dinâmicas de atividade e de inflação em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A desinflação medida pelo IPCA cheio tem arrefecido, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,1% e 4,0%, respectivamente.
As projeções de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026* situam-se em 3,4% no cenário de referência e 3,2% em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante.**
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se:
- (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
- (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e
- (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Entre os riscos de baixa, ressaltam-se:
- (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e
- (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional exigem ainda maior cautela na condução da política monetária. Em particular, os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância.
O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.
Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.
O Comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno da meta. O Comitê se manterá vigilante e relembra que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
* A comunicação da projeção para seis trimestres à frente, correspondendo ao primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, está em consonância com a nova sistemática de meta para a inflação estabelecida pelo Decreto 12.079/2024 com vigência a partir de 1º de janeiro de 2025.
** Em seu cenário de referência, no qual a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,55/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC), as projeções de inflação do Copom para os anos-calendário situam-se em 4,2% para 2024 e 3,6% para 2025. Nesse cenário, as projeções para a inflação de preços administrados são de 5,0% em 2024 e 4,0% em 2025. No cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,2% para 2024 e 3,4% para 2025. Em ambos os cenários, o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento usual.”