Cenário favorável para o mercado de cerveja após tempestade perfeita
Mercado de cerveja tende a melhorar nos próximos trimestres, após um segundo trimestre atipicamente fraco, segundo avaliação dos especialistas do Banco Safra
29/08/2025
Clima e aumentos de preço implementados pela Ambev e pela Heineken afetaram o desempenho do mercado de cerveja no segundo trimestre | Foto: Getty Images
Apesar dos desafios estruturais do setor de cerveja, o Banco Safra informa que projeta alguma melhora em relação à base fraca do segundo trimestre de 2025. Os especialistas do banco elevaram a recomendação da ação da Ambev (ABEV3) de venda para Neutra, após os números fracos do segundo trimestre.
O Safra avalia uma combinação de fatores que podem beneficiar os lucros da empresa no segundo semestre de 2025 e em 2026. Segundo o banco, a divisão Cerveja Brasil da Ambev enfrentou uma ‘tempestade perfeita’ no segundo trimestre, mas seus resultados devem melhorar nos próximos trimestres.
O Canadá está em uma tendência mais favorável no curto prazo, enquanto a Argentina deve continuar impulsionando os resultados da divisão América Latina Sul (LAS).
Quanto às margens, os preços das commodities e o câmbio parecem oferecer perspectivas limitadas para melhorias no hedge de custos – pelo menos no primeiro semestre de 2026 –, mas o banco espera redução da pressão vinda do Brasil, especificamente a partir de meados de 2026 devido às bases de comparação mais fáceis.
Consequentemente, considerando um múltiplo preço/lucro mais razoável de 11,4x em 2026 (14% de desconto em relação aos pares) e um dividend yield de 7%, o banco vê uma menor assimetria negativa no preço da ação, o que justifica a elevação da recomendação. O Safra também aumentou o preço-alvo para R$14,50 (de R$13,50).
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Mercado de cerveja no Brasil
O Safra espera alguma melhora após um segundo trimestre fraco. E mantém uma visão cautelosa sobre o setor, visto que o consumo de cerveja enfrenta dificuldades no mundo todo, e o ambiente competitivo no Brasil é particularmente desafiador devido ao sólido posicionamento da Heineken. No entanto, os próximos trimestres devem representar uma melhora sequencial após um segundo trimestre atipicamente fraco (-8,9% a/a), o que deve aliviar a pressão sobre os lucros.
O clima desempenhou um papel importante nos baixos volumes do segundo trimestre, mas o Safra acredita que o intervalo de tempo entre os aumentos de preço implementados pela Ambev e pela Heineken também contribuiu para o pior desempenho.
Os preços mais normalizados daqui para a frente devem impactar menos os volumes. O Safra ainda estima crescimento negativo nos volumes no terceiro trimestre de 2025 (-2%), mas bases de comparações fáceis no quarto trimestre devem levar a um crescimento de +2% a/a no último trimestre de 2025.
O Canadá ainda parece enfraquecido, mas a Argentina oferece uma perspectiva melhor para a América Latina. O Canadá deve continuar enfrentando obstáculos estruturais devido aos desafios no setor, embora o curto prazo possa continuar se beneficiando das mudanças no modelo de distribuição em Ontário.
O Safra não acredita que as tarifas dos EUA desempenhem um papel importante nesse caso, já que a cerveja importada dos EUA representou apenas 2,2% do consumo de cerveja no Canadá em 2024.
Por outro lado, o banco está mais otimista em relação à América Latina e do Sul, já que a recuperação econômica da Argentina deve beneficiar o crescimento do volume, especialmente considerando as bases de comparação favoráveis.
O custo por hectolitro provavelmente acelerará no curto prazo, na análise do Safra. Os preços das commodities agrícolas (cevada, milho, trigo, etc.) e do alumínio têm apresentado alta moderada recentemente, o que provavelmente exercerá certa pressão inflacionária sobre o hedge futuro.
Além disso, o Brasil está se recuperando de um nível bastante depreciado do fim de 2024, o que ainda deve exercer algum efeito negativo no hedge de custos durante o primeiro semestre de 2026, com bases de comparação mais fáceis no segundo semestre.
Essa combinação de fatores leva o Safra a acreditar que o custo por hectolitro da Cerveja Brasil em 2026 (nenhuma projeção foi fornecida pela companhia) provavelmente inclinará para o limite superior da projeção para 2025 (+5,5% a +8%).
Avaliação do mercado
Desde a última atualização dos especialistas do Safra, o preço da ação da ABEV3 caiu 10% e apresentou desempenho inferior ao de seus pares globais, resultando em um múltiplo P/L de 11,4x em 2026, o que agora implica um desconto de 14% em relação aos seus pares.
O Safra espera alguns obstáculos de custo no curto prazo e continuamos observando um ambiente estruturalmente desafiador para a Cerveja Brasil. No entanto, em termos de resultados operacionais, o pior provavelmente já passou após o segundo trimestre de 2025, o que, combinado com uma avaliação mais razoável e um dividend yield de 7% (com risco positivo devido à posição de caixa líquido substancial da companhia), resulta em um risco negativo muito mais limitado neste momento, em nossa opinião.
Riscos. (i) Reformas tributárias; (ii) custos de commodities e câmbio; (iii) concorrência; (iv) ambiente macroeconômico; e (v) mudanças nos hábitos de consumo.