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Com depreciação do câmbio, IPCA deve fechar o ano distante da meta de 3%

Decreto que define meta permanente fixada pelo Conselho Monetário Nacional para a inflação deve ser publicado ainda em junho

Preços das commodities têm subido, revertendo tendência de 2023 | Foto: Getty Images

Preços das commodities têm subido, revertendo tendência de 2023 | Foto: Getty Images

As altas recentes nos preços dos alimentos e do minério de ferro e a certa firmeza projetada para os próximos meses sugerem que a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulada em 12 meses deve subir e fechar o ano entre 3,8% e pouco acima de 4%, banda que está distante da meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional para 2024.

Em análise sobre o comportamento dos preços, o Banco Safra projeta que a o IPCA deva fechar junho próximo de 4,4%, mantendo-se próxima a 4,0% por alguns meses, antes de cair para 3,8% ao final do ano. Isso corresponde a uma revisão de 0,2 ponto percentual na taxa anual de 2024, decorrente em grande parte da recente depreciação do câmbio, que deve impedir o real de passar abaixo de R$ 5 por dólar até o final do ano.

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Caso o câmbio se mantenha próximo ao valor das últimas semanas, a variação do IPCA pode ultrapassar 4% em 2024, com implicações para os juros, ainda que o horizonte relevante da autoridade monetária já esteja se deslocando para 2026.

A dinâmica recente mais complexa da inflação, com o aumento do preço internacional de várias commodities e a desvalorização do câmbio cria desafios para a política monetária na segunda metade de 2024.

O Copom, entretanto, não deve se focar no combate à inflação no ano corrente. Em contrapartida à recente volatilidade do preço da alimentação e de alguns outros itens, os núcleos da inflação vêm se comportando bem, mesmo considerando a dinâmica um pouco mais acelerada em certos serviços. O alívio trazido por essa estabilidade à condução da política monetária é, no entanto, mitigado pela deterioração das previsões do Focus para a inflação nos anos à frente, que vai se tornando o horizonte relevante para a autoridade monetária.

Diante de toda essa incerteza parece claro que os membros do COPOM deverão ser cautelosos na reunião de junho, e manterão a taxa Selic em 10,5%. Ainda neste mês o CMN deve confirmar a meta de inflação para o ano que vem ou, possivelmente antes disso, um decreto será publicado com aprimoramento do arcabouço do sistema de metas, com adoção de uma meta com averiguação contínua e permanente em 3%.

Commodities e a dinâmica da inflação

Os preços internacionais das commodities têm subido, revertendo a tendência dominante em 2023. Na alimentação, a queda de produção global do trigo tem afetado o preço desse e de outros produtos.

Segundo relatório mais recente sobre condições de oferta e demanda de produtos agrícolas do departamento de agricultura dos Estados Unidos (WASDE – US$A), a oferta global de trigo deve ser 5,7 milhões de toneladas menor em relação a projeções anteriores, em especial por conta das frustrações com a cultura na Rússia, Ucrânia e na União Europeia.

A alta de preço do trigo deve inibir a demanda pelo grão como ração animal, desviando essa demanda para o milho. Assim, o preço do milho tem subido, apesar de sua produção não ter se alterado. O preço das commodities metálicas tem evoluído também, com o preço do minério de ferro começando a subir a partir de abril.

A depreciação do real tem ampliado o impacto da subida dos preços internacionais das commodities. O IC-Br, índice de preços de commodities em reais calculado pelo Banco Central do Brasil (BCB), teve alta de 5,0% entre março e maio, puxado por metais e agropecuária. A curva futura de preços internacionais das commodities sugere que o ICBr possa subir mais 5,6% até julho.

A alta das commodities já se reflete nos preços do atacado no Brasil. A variação mensal do IGP-DI em abril e maio foi de 0,72% e 0,87%, respectivamente, encerrando a sequência de deflação dos três primeiros meses do ano.

Independente da dinâmica de curto prazo da inflação, tem havido deterioração das expectativas para 2025-2027 reportadas ao Banco Central. As projeções de inflação do Focus têm aumentado nos últimos meses, por razões que ainda não são claras e que o mercado muitas vezes associa à mudança da presidência do banco ou à dinâmica fiscal do país.

Na medida em que essas projeções entram nos modelos de previsão de inflação do BCB, elas também afetam a trajetória da curva de juros, e a própria decisão do nível da Selic a ser adotado pela instituição.

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