Balanços das empresas mostram que 77% estão mais endividadas
Dentre as companhias sob cobertura do Safra que divulgaram resultados, 77% apresentaram aumento da dívida líquida no primeiro trimestre de 2025
10/07/2025
Incentivos de crédito no baixa renda e ampliação do Minha Casa Minha Visa impulsionam vendas de imóveis | Foto: Getty Images
O primeiro trimestre de 2025 foi marcado por um desempenho ainda resiliente da economia, com o PIB registrando alta de 2,9% no período em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Esse resultado positivo reflete, em grande parte, o forte desempenho da agropecuária (+10,2%), impulsionado pelo início da colheita da safra recorde de soja, além do avanço nas atividades da indústria (+2,4%) e dos serviços (+2,1%).
No entanto, o fim da colheita e os efeitos defasados da política monetária mais restritiva tendem a enfraquecer a demanda doméstica ao longo do ano, segundo análise dos especialistas do Banco Safra.
Diante de um cenário de maiores incertezas e juros ainda elevados, as companhias continuaram recorrendo ao mercado de capitais como fonte de financiamento para rolagem de dívidas e fortalecimento do caixa no curto e médio prazo.
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As emissões de debêntures, CRAs e CRIs somaram R$120 bilhões no primeiro trimestre de 2025 — um recorde na série histórica para primeiros trimestres — representando um crescimento de 19,6% em relação ao primeiro trimestre de 2024.
A demanda ainda resiliente por títulos de crédito privado e a manutenção de spreads comprimidos sustentaram as operações ao longo do trimestre. Destaca-se também a retomada das emissões no mercado externo, que totalizaram US$11,2 bilhões no primeiro trimestre de 2025 (+25,6% vs. primeiro trimestre de 2024).
77% das empresas aumentaram o endividamento no primeiro trimestre
Dentre as companhias sob cobertura do Safra que divulgaram resultados no último trimestre, 77% apresentaram aumento da dívida líquida no primeiro trimestre de 2025 em comparação ao mesmo período do ano passado.
A alavancagem média atingiu 2,8x no primeiro trimestre de 2025, ante 2,7x no quarto trimestre de 2024 e 2,1x no primeiro trimestre de 2024. O maior endividamento, aliado a custos de financiamento mais elevados, tem impactado negativamente as métricas de crédito e alavancagem das empresas.
A evolução do desempenho operacional e a capacidade de novos refinanciamentos serão fatores importantes nos próximos trimestres. Empresas mais alavancadas e com menor acesso ao mercado de capitais (equity e/ou dívida) devem enfrentar ciclos mais restritivos.
Analisando setorialmente, no segmento de concessões e infraestrutura, destacaram-se os resultados de Arteris (ARTR3), Ecorodovias (ECOR3) e Motiva (MOTV3, ex-CCR), beneficiadas pelo crescimento do tráfego consolidado nas rodovias, com maior fluxo de veículos pesados e repasses tarifários.
No entanto, o Safra observa o elevado volume de investimentos contratado a ser executado por essas companhias nos próximos anos e os possíveis impactos do arrefecimento da atividade econômica no segundo semestre de 2025.
No setor imobiliário, a demanda aquecida por imóveis do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) e o repasse de preços favoreceram as margens operacionais e os resultados das companhias.
No segmento de média e alta renda, apesar da sazonalidade do período, as vendas permaneceram sólidas. Na área de cobertura do Safra, os destaques positivos do primeiro trimestre de 2025 foram: Auren (AURE3), com o início da captura de sinergias de custos após a aquisição da AES Brasil (AESB3) e sólido desempenho na operação de trading; BRF (BRFS3), que manteve forte geração de caixa livre e continuidade do processo de desalavancagem. A companhia, ainda anunciou uma proposta de incorporação das suas ações pela Marfrig (MRFG3), Lavvi (LAVV3), com expansão da rentabilidade e manutenção de um perfil de crédito conservador.
Destaques setoriais dos balanços das empresas
Grãos/sucroalcooleiro
- Boa produtividade da safra de soja no Centro-Oeste e maior estabilidade de custos com insumos / Alta no preço do etanol contribuiu para margem das usinas e para elevar o mix de produção de etanol na safra 24/25.
- Risco: Persistência dos efeitos climáticos adversos na região Sul, com impacto na produtividade.
Energia elétrica
- Contexto regulatório favorável para a renovação de concessões de distribuição / Melhora de indicadores operacionais.
- Risco: Geração renovável lidou com cortes na produção (curtailment) e resultados mais fracos na área de comercialização / Em distribuidoras, queda nos volumes do mercado cativo, frente a uma base de comparação forte do 1T24 e migração de consumidores para o mercado livre.
Imobiliário
- Incentivos de crédito no baixa renda e ampliação do MCMV impulsionam vendas / Manutenção da velocidade de vendas (VSO) elevada e estoques reduzidos no alta renda, mesmo com cenário de juros elevado.
- Risco: Aumento de custos pode pressionar margens operacionais futuras / Atraso nos repasses junto a caixa e ampliação dos prazos de análise / Alavancagem e portfólio de lançamentos.
Locação de veículos
- Manutenção da demanda elevada no segmento de frotas / Estabilização do preço de veículos seminovos e depreciação dos ativos / Menor pressão por expansão de frota total.
- Risco: Redução do segmento de RAC / Alavancagem pressiona despesas financeiras e custo de captação das companhias
Proteína animal (frigoríficos)
- Demanda global e preços mais valorizados de aves e suínos.
- Risco: Preço elevado do gado no Brasil e EUA pressionaram margens do segmento / Aumento do preço do milho pode pressionar margens dos produtores no segundo semestre / Suspensão das exportações temporárias após o registro do caso de gripe aviária, pode impactar cadeia de produção.
Saúde
- Continuidade da recomposição de margens nas seguradoras e expansão da base de clientes / Aumento da demanda do segmento de diagnósticos.
- Risco: Recomposição e revisão de carteiras e fontes pagadoras / Alavancagem média das principais companhias continua elevada / Alterações regulatórias da ANS podem impactar rentabilidade dos operadores.