Após os resultados do primeiro trimestre, o Banco do Brasil (BBAS3) suspendeu seu guidance de Renda Líquida de Investimentos (NII) e provisões devido à incerteza no setor do agronegócio, principalmente diante da transição da Resolução nº 2682 para a nº 4966.
Como resultado, os especialistas do Banco Safra revisaram significativamente as estimativas — assim como o consenso. O mercado agora projeta um lucro líquido entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões para 2025 (a estimativa atual do Safra é de R$ 26 bilhões), com números preliminares do segundo trimestre de 2025 em torno de R$ 5,1 bilhões a R$ 5,4 bilhões.
O Safra acredita que o mercado está focando principalmente no risco do agronegócio, dado o recente agravamento evidenciado pelos dados do Banco Central sobre inadimplência de curto prazo.
Ainda assim, pode estar negligenciando uma ameaça bastante relevante neste trimestre: o crédito corporativo (especialmente para PMEs). O Safra destaca porque as provisões corporativas podem se tornar uma fonte mais significativa de pressão sobre os lucros no curto prazo e frustrar ainda mais as estimativas.
O crédito corporativo já era um ponto de atenção, mas o Safra destaca o novo índice de inadimplência acima de 30 dias divulgado pelo BB, que mostrou um forte aumento no primeiro trimestre e pode estar migrando para inadimplência acima de 90 dias no segundo trimestre.
Sob o novo modelo de perda esperada de crédito (ECL), a deterioração da inadimplência de curto prazo teria acionado um nível maior de provisões, dado o critério de “dias em atraso” para migração para o Estágio 2 (30–90 dias) ou Estágio 3 (+90 dias), mas o Safra nota que o BB provisionou apenas 40% da formação de inadimplência no primeiro trimestre, o que pode indicar que esses créditos já estavam nos Estágios 2 ou 3, uma vez que o BB pode ter classificado proativamente esses NPLs como de maior risco na transição da Resolução nº 2682 para a nº 4966 no início do ano.
O Safra menciona também que há fatores mitigadores, como amortizações, modelos de compartilhamento de perdas com o governo (como o Pronampe), garantias adicionais, curing, etc., que devem reduzir os ECLs e não exigem que o BB provisione 100% da nova formação de NPLs.
O segundo trimestre pode frustrar as projeções iniciais
Assumindo que, no segundo trimestre, uma parcela relevante dos NPLs de 30–90 dias migrará para mais de 90 dias e atingirá o Estágio 3, e que os ECLs ficarão em torno de 70% da formação de NPLs (em vez de apenas 40%), isso implica que o maior delta nos ECLs do 2T pode vir não do agronegócio, mas da carteira corporativa, com R$2 bilhões em provisões adicionais.
Isso explica a estimativa do Safra de perda esperada de crédito de R$14 bilhões para o segundo trimestre, com NII estável em R$24 bilhões.
Como resultado, sa projeção do Safra de lucro líquido para o segundo trimestre é de R$4,6 bilhões, 10% abaixo do consenso de ~R$5,2 bilhões observado no mercado.
Como referência, o Safra projeta R$5,3 bilhões em formação de NPLs corporativos (de um total de R$15,7 bilhões), implicando um aumento de +70bps no índice de inadimplência acima de 90 dias.