Em um trimestre marcado por ajustes de estoque, os volumes da Alpargatas (ALPA4) aumentaram 4% a/a, apoiados por sua recuperação consistente no Brasil, levando a uma receita líquida consolidada de R$1,1 bilhão, um aumento de 11,6% a/a e 6,2% acima da estimativa do Banco Safra.
A margem bruta atingiu 33,3%, -3 p.p. a/a e 13 p.p. abaixo da estimativa do Safra, devido ao cancelamento de provisões. Por sua vez, a margem EBITDA contraiu 3,50 p.p. para 3,2% (-11 p.p. vs. estimativa do Safra), com um aumento de ~20% nas despesas de vendas relacionadas a esforços de marketing mais fortes.
Excluindo os efeitos do cancelamento, a margem bruta teria expandido 3,9 p.p. para 48,6% (+2,40 p.p. vs. estimativa do Safra) e a margem EBITDA teria aumentado 3,6 p.p. para 17,8% (+3,3 p.p. vs. estimativa do Safra).
Por fim, a empresa reportou um lucro líquido ajustado de R$28,7 milhões, que inclui uma contribuição de R$31 milhões da Rothy’s no trimestre e compara-se à estimativa do Safra de R$83 milhões.
Avaliação do Safra sobre os resultados da Alpargatas
Os especialistas do Banco Safra avaliam que a Alpargatas apresentou um trimestre decepcionante, pois o impacto dos cancelamentos foi mais severo do que o esperado e a recuperação da divisão internacional ainda exigirão melhorias significativas.
A empresa reportou R$165 milhões em cancelamentos de estoque (R$108 milhões doméstico; R$57 milhões internacional) e, embora os estoques devam estar majoritariamente
normalizados, 10% dos produtos no Brasil ainda são de duas coleções atrás (os cancelamentos visam principalmente produtos de três coleções ou mais). Além disso, a divisão Internacional ainda tem espaço para melhorias para atender aos padrões internacionais, o que ainda pode refletir negativamente nos lucros futuros.
Atualmente, a taxa de pedidos de produtos entregues no prazo e completos (OTIF) da empresa na Europa – historicamente, o principal mercado internacional da empresa – é de 55% (acima de 16% em 2023).
Para efeito de comparação, seu OTIF no Brasil é atualmente de 70%, enquanto um OTIF geralmente considerado aceitável pelos fabricantes de varejo dos EUA é de 95%. Houve dois destaques positivos no trimestre:
- (i) os volumes domésticos superaram as expectativas do Safra em 3%, embora isso tenha sido parcialmente devido a despesas de marketing mais altas, com despesas gerais, com vendas e administrativas superando as projeções do Safra 3,6%;
- (ii) Rothy’s, que apresentou um crescimento de 20% a/a na receita líquida e um lucro líquido de US$11 milhões.
No geral, o Banco Safra mantém a recomendação Neutra e continua a monitorar de perto o progresso da divisão internacional.
Recuperação consistente no Brasil, embora às custas de despesas de marketing mais altas
O volume de vendas da Havaianas no Brasil aumentou +5% a/a, refletindo a conclusão do processo de normalização de estoque. O preço médio por par aumentou 4% a/a, levando a uma receita líquida de R$980 milhões, crescendo 9% a/a e ficando 5% acima da estimativa do Safra.
Além disso, custos adicionais de R$108 milhões relacionados aos cancelamentos de matérias-primas e estoque levaram a uma queda de 1,30 p.p. a/a na margem bruta. Além
disso, despesas gerais, administrativas e com vendas mais altas (+11% a/a), principalmente devido a maiores investimentos em marketing e maiores volumes de vendas, resultaram em uma queda de 2,70 p.p. a/a na margem EBITDA para 15,2%, em comparação com a estimativa do Safra de 24,8%. A margem EBITDA ajustada, excluindo o impacto dos cancelamentos, atingiu 26,2%.
Melhorias ainda a serem feitas na divisão Internacional
Os volumes internacionais diminuíram 11% a/a devido aos ajustes nas políticas comerciais, principalmente nos mercados da América Latina. Dito isso, o preço médio por par aumentou 47% a/a (23,6% em moeda constante), impactado principalmente pelos efeitos cambiais, levando a uma receita líquida de R$127 milhões (+31,3% a/a), 9,2% acima
da estimativa do Safra.
Em moeda constante, a receita líquida aumentou 10,8%. Além disso, a margem bruta foi negativamente impactada pelos cancelamentos de estoque, atingindo 0,5%, uma queda de 13 p.p. a/a.
Por fim, o EBITDA foi de -R$120 milhões, vs. -R$100 milhões no 4T23, também impactado pelos efeitos dos cancelamentos. Excluindo os cancelamentos, o EBITDA ajustado teria sido de -R$62,2 milhões, em comparação com a estimativa do Safra de -R$77,7 milhões.