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Cenário para investimentos mostra sinais favoráveis a médio prazo

Em relatório com as conclusões do J.Safra Macro Day, especialistas do Banco Safra recomendam cautela no curto prazo, mas destacam fatores que podem beneficiar a Bolsa Brasileira e a melhora da economia

Galípolo no J. Safra Macro day

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, analisou o cenário da economia brasileira e o contexto internacional durante o J. Safra Macro Day | Foto: Divulgação

O Banco Safra divulgou um relatório com as projeções para o cenário de investimentos, após os debates realizados com autoridades, executivos do mercado financeiro e investidores, durante o J. Safra Macro Day, no dia 28 de abril.

As conclusões indicam que os investidores devem ter cautela com as decisões no curto prazo, mas diversos fatores podem favorecer a rotação de investimentos dos Estados Unidos para o Brasil e favorecer a valorização da Bolsa de Valores brasileira. Participaram do evento o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, o embaixador Rubens Barbosa e o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, entre outras autoridades.

José Olýmpio, CEO do Banco J. Safra

Alberto Monteiro, CEO do Banco Safra, José Olympio Pereira, CEO do Banco J Safra, Joaquim Levy, Diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Safra e Sergio Penchas, Head do Safra Wealth Management e Eduardo Yuki, Superintendente Executivo de Economia do Banco Safra, mediaram painéis sobre os principais temas que afetam os investimentos.

Os debates trataram de tópicos relacionados à economia mundial e local e aos cenários domésticos fiscal, político e eleitoral bem como seus devidos reflexos para o mercado de capitais no Brasil e no mundo.

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Conclusões do J. Safra Macro Day

Na avaliação dos especialistas do Banco Safra, o cenário atual exige cautela dos investidores no curto prazo. Mas, o banco destaca sinais de melhoria.

Considerando as avaliações durante os painéis do J.Safra Macro Day, os especialistas do safra reafirmam a visão cautelosa para o mercado de ações devido às incertezas causadas pelas políticas tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seus impactos sobre a economia global.

O impacto da crise tarifária, segundo o Safra, justifica o posicionamento defensivo nas carteiras recomendadas de ações e de BDRs (Brazilian Depositary Receipts).

Para o médio prazo, embora possa haver alguma volatilidade em virtude da discussão sobre a taxação dos dividendos, os especialistas do Safra avaliam fatores catalisadores no mercado – como a desaceleração da economia dos EUA, um possível cenário de juros mais baixos globalmente e o valuation atrativo do Ibovespa. Estes fatores favorecem uma rotação de investimentos dos EUA para outros países, incluindo o Brasil, destaca o relatório do Safra.

A longo prazo, o Safra tem uma visão construtiva para o mercado brasileiro, considerando os benefícios da reforma tributária, a disposição do Congresso em aprovar reformas importantes, a condução adequada da política monetária e o potencial de investimento em novas áreas (incluindo transição energética), que podem fomentar a economia.

Destaques dos painéis do evento do J.Safra

Ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad: O ministro da Fazenda Fernando Haddad comentou sobre os impulsionadores do crescimento econômico e os desafios presentes no Brasil, destacando que, apesar do menor impulso fiscal, o setor privado já se comprometeu com um grande fluxo de investimentos, e ativos já foram leiloados (especialmente no setor de infraestrutura). Ele também comentou que o governo está trabalhando para estimular investimentos em outros setores, como data centers (o governo está desenvolvendo um modelo regulatório). Ademais, apesar da perspectiva internacional incerta devido às novas tarifas impostas sobre as importações pelos Estados Unidos, o governo brasileiro visa manter um diálogo aberto com importantes parceiros internacionais. Com relação às reformas que estão sendo discutidas no Congresso, Haddad passou uma mensagem positiva, pois acredita que a reforma tributária aumentará a produtividade no setor industrial e que a mudança no imposto de renda será importante para a população.

A agenda econômica na Câmara dos Deputados: O deputado Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, apontou que o Congresso Nacional tem apoiado importantes reformas, garantindo uma ampla e equilibrada discussão sobre o impacto de cada medida proposta. Em relação à reforma do imposto de renda, ele concorda que o relator do projeto de lei deve receber feedback de todos os interessados e sobre seus impactos potenciais (compensações exigidas) antes de entregar a versão final para votação (provavelmente no 2S25). O deputado acredita que mesmo que alguns aspectos da reforma sejam impopulares (referindo-se, por exemplo, à discussão da PEC do 6×1), abordar os assuntos apropriadamente com a população pode ter um efeito positivo e ajudar com a aprovação de certas medidas. Ele observou que o Congresso atuará com responsabilidade para garantir que a agenda de crescimento seja implementada e que salvaguardas regulatórias sejam criadas para os investimentos.

Presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo: O presidente do Banco Central do Brasil reforçou a mensagem comunicada na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Ele iniciou sua palestra com comentários sobre a evolução da discussão sobre as tarifas de importação e seu potencial impacto sobre a perspectiva econômica global (menor crescimento, potencial aumento da inflação no curto prazo), assim como seus efeitos sobre o mercado de títulos de dívida. Nesse cenário, a incerteza ainda é elevada e, apesar de o Brasil buscar uma agenda positiva de reformas e possuir fortes competências (grande independência no fornecimento de alimentos e energia), o Banco Central continua monitorando cuidadosamente os dados e os impactos da atual volatilidade sobre a economia brasileira para garantir que o nível das taxas de juros esteja adequado. O Banco Central acredita que a agenda de reformas seja importante para promover um crescimento econômico sustentável e garantir que a política monetária tenha um impacto mais fluido na economia real.

Tributação de dividendos: Em evento moderado por Kelly Fuoco (Safra), os advogados José Henrique Longo (PLKC) e Giancarlo Chamma Matarazzo (Pinheiro Neto) analisaram a proposta de reforma do imposto de renda, que amplia a faixa de isenção para R$5 mil mensais e cria uma nova tributação mínima (IRPF-M) de 10% para pessoas físicas de alta renda (acima de R$1.200.000 anuais) e para não residentes que recebem dividendos acima de R$50 mil por pessoa física. O novo IRPF-M desconsidera diversas fontes de rendimento, mas torna o cálculo mais complexo, exigindo a comparação com o IRPJ e a aplicação de redutores. Matarazzo criticou a tributação na fonte com posterior ajuste comparando-a a um empréstimo compulsório, e apontou ilegalidade na tentativa de tributar lucros antes da criação da nova regra. Longo destacou dificuldades para holdings não controladoras e defendeu que a proposta passe por ajustes no Congresso. A proposta foi considerada prejudicial ao mercado de capitais por criar incertezas para investidores estrangeiros e desincentivar o recebimento de dividendos. Além disso, a tributação sobre bonificações e a ausência de regra de anterioridade devem estimular a antecipação na distribuição de lucros e em remessas para o exterior. O foco da reforma recai sobre empresas sob os regimes de lucro presumido, Simples e MEI, que constituem a maioria no país e têm carga tributária abaixo do teto. A correção parcial da tabela do IRPF — defasada desde 1989 — mantém um aumento velado da carga tributária sem redução compensatória do IRPJ, como ocorreu em reformas internacionais. Para os painelistas, a reforma fragmentada eleva a complexidade do sistema e possivelmente irá gerar contenciosos que poderiam ser evitados com uma abordagem mais ampla e estruturada.

Visão das gestoras: O painel discutiu os impactos do agravamento da guerra tarifária e das tarifas de importação sobre a economia e os mercados. Os convidados mencionaram que os impactos de curto prazo incluem inflação mais alta (e, como consequência, mais pressão sobre os juros inicialmente), mas a tendência de longo prazo aponta para redução nas projeções de crescimento (o que pode resultar em juros terminais mais baixos). Como os investidores têm se mantido sobrealocados nos EUA desde a pandemia de covid-19, os gestores preveem uma potencial rotação de investimentos dos EUA para outros mercados financeiros ou (de ações) para outros mercados de títulos de dívida. Para navegar tal cenário de incertezas e alta volatilidade, os convidados do J.Safra Macro Day parecem estar mais focados em posições táticas de curto prazo e em mercados de opções. Nesse cenário, flexibilidade e liquidez são aspectos fundamentais de seus portfólios. Com relação ao Brasil, não há consenso em relação à exposição ideal, apesar de as avaliações parecerem descontadas. O cenário fiscal e as eleições devem ser os principais fatores que determinarão o peso dos investimentos e das classes de ativos em seus portfólios de longo prazo.

Cenário eleitoral: Durante o painel sobre o cenário eleitoral brasileiro, Andrei Roman, sócio da Atlas Intel, comentou o resultado da última pesquisa de avaliação do atual governo brasileiro, realizada por sua empresa em parceria com a Bloomberg, que mostrou uma inversão da tendência das pesquisas anteriores. Em uma base de comparação mensal, a desaprovação do presidente Lula caiu e a aprovação subiu. Essa é uma boa notícia para o governo, fruto de medidas bem avaliadas pela população, como a proposta de isenção de imposto de renda para quem ganha até R$5mil por mês (84% de aprovação), e uma melhora na comunicação. Segurança pública, corrupção, economia e inflação e mau funcionamento da justiça estiveram entre os fatores apontados como os maiores problemas do país, cenário que poderia ser melhor capitalizado pela direita, segundo Roman. Em seu comentário sobre o cenário eleitoral para 2026, Lucas de Aragão, sócio da Arko Advice, indicou que ainda existe muita incerteza e dificilmente os partidos/candidatos de oposição se organizarão antes do início do próximo ano. Por outro lado, o atual governo deve chegar em situação competitiva para as eleições. Um caminho mais lógico para os partidos de centro e direita seria apoiar um candidato único. De acordo com o Aragão, a tendência de fortalecimento da direita vista nas eleições municipais em todos os níveis poderia se replicar no Congresso e Senado.

Desafios para o Estado de São Paulo e para o Brasil: O governador do Estado de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, mencionou que seu governo vem focando em enxugar o tamanho do estado extinguindo empresas e autarquias desnecessárias, digitalizando, atacando o elevado estoque de dívida e reduzindo benefícios tributários que não fazem mais sentido. O governador falou sobre privatizações e parcerias com a iniciativa privada em diversas áreas, como rodovias e ferrovias, e comentou sobre o túnel Santos-Guarujá, projeto de grande interesse para investidores estrangeiros que tem potencial para beneficiar a logística local e o mercado imobiliário na Baixada Santista. Destacou a fortaleza da regulação em “estado da arte” e a estruturação de projetos no Estado de São Paulo que minimizam riscos e vêm atraindo investimentos em infraestrutura que poderiam chegar na casa de R$1 trilhão. O governador defendeu o aperfeiçoamento das políticas de segurança pública, indicando que essa é apontada como a principal preocupação da população brasileira, que precisaria ser atacada em todos os níveis de governo em busca do combate ao elevado índice de reincidência criminal. Freitas mencionou que a melhor maneira de contribuir para o Brasil em 2026 seria entregando resultados de referência e apontando o caminho correto para outros Estados.

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