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Investidores enxergam cenário positivo para o setor de alimentos

Investidores saíram da J.Safra Investment Conference com um sentimento melhor em relação ao setor de alimentos e à indústria de frigoríficos

alimentos frigoríficos j.Safra

O Safra destaca que continua a observar forte demanda global por proteínas, com expectativa de melhora nas margens de aves e suínos na segunda metade de 2025 | Foto: Getty Images

A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgou dados da terceira semana de setembro, mostrando uma recuperação semanal nos volumes de carne bovina e suína comercializados. Embora os volumes de aves apresentem tendência de queda na comparação semanal, a primeira semana foi muito forte e o desempenho acumulado no mês ainda indica uma sólida recuperação em relação ao mês anterior.

No entanto, os preços permanecem praticamente inalterados, com apenas as margens de aves mostrando melhora no comparativo mensal. Ainda assim, o Safra destaca que continua a observar forte demanda global por proteínas, com expectativa de melhora nas margens de aves e suínos na segunda metade de 2025 (positivo para BRFS3/MRFG3 e JBS), devido ao efeito favorável do carregamento de custos.

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J.Safra Investment Conference destaca perspectivas do setor de proteínas

Nos dias 16 e 17 de setembro, durante a Conferência de Investimentos J. Safra 2025, especialistas discutiram os principais temas do setor em reuniões com investidores e empresas (JBS, M. Dias Branco, SLC Agrícola, Camil, 3Tentos e BrasilAgro).

De forma geral, a perspectiva é moderadamente positiva para o setor, segundo a análise do Safra: os investidores saíram da conferência com um sentimento um pouco melhor em relação à indústria de frigoríficos. A forte demanda global por proteínas, combinada com a queda nos preços dos grãos, contribuiu para essa visão positiva.

Forte demanda por proteínas beneficiando a JBS

A administração da JBS (JBSS3) corroborou a visão de forte demanda global por proteínas, apesar dos desafios na indústria de carne bovina nos EUA. Os negócios de aves e suínos continuam apresentando bom desempenho, devido à redução nos custos de insumos e ao equilíbrio positivo entre oferta e demanda. Assim, Pilgrim’s Pride, Seara e JBS USA Pork devem continuar se beneficiando desses fundamentos sólidos de mercado. A Austrália também deve manter bom desempenho, dado o cenário favorável do ciclo pecuário. Já a indústria de carne bovina nos EUA deve continuar pressionando os resultados consolidados da companhia pelos próximos dois anos, considerando a atual fase de recomposição do rebanho.

Perspectiva favorável para grãos

As projeções para as safras de soja e milho do próximo ano permanecem positivas, apoiadas por condições climáticas favoráveis e bons níveis de chuvas. No entanto, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) emitiu alertas sobre a probabilidade crescente de um evento La Niña até o final do ano. Ainda assim, dado o cenário atual favorável, os preços permanecem comportados, o que é positivo para os frigoríficos.

JBS (JBS; Outperform; Preço-alvo US$19,00) – Participaram da conferência Wesley Batista (membro do Conselho de Administração); Guilherme Cavalcanti (CFO) e Christiane Assis (Diretora de Relações com Investidores). O Safra acredita que a perspectiva da JBS continua positiva devido à forte demanda global por proteína e aos custos de insumos favoráveis na maioria das divisões. Os negócios de aves e suínos (Seara, Pilgrim’s Pride e JBS USA Pork) devem continuar se beneficiando de ciclos favoráveis, apoiados por custos de insumos mais baixos e pela capacidade limitada da indústria de aumentar a produção. O ciclo positivo da carne bovina na Austrália deve manter uma tendência favorável até 2027, e os comentários sobre o ciclo do gado no Brasil foram bastante construtivos para o curto prazo. Por outro lado, a indústria de carne bovina nos EUA deve permanecer desafiadora, à medida que os pecuaristas aumentam a retenção de vacas. No geral, a demanda global por proteína é robusta, e a JBS deve aproveitar esse cenário, dado seu sólido histórico de execução.

Entre os principais tópicos discutidos, o Safra destaca:

Ciclo das aves: O desempenho este ano foi excepcional para os negócios de aves da JBS (Seara e Pilgrim’s Pride), dado a forte demanda e os preços de insumos estáveis. Olhando para frente, considerando que os preços dos grãos permanecem no piso da média de cinco anos, as margens atuais de lucratividade devem ser difíceis de repetir no próximo ano, mas também não se espera uma queda significativa. Portanto, é razoável esperar uma redução de margem com um “pouso suave”.

Ciclo do gado no Brasil: Apesar dos preços mais altos do gado este ano (em média, 33% acima no acumulado do ano), o desempenho tem sido resiliente e melhor do que o esperado. O Safra acredita que a administração continua confiante de que a JBS Brasil manterá uma margem bastante robusta (embora em queda devido à disponibilidade limitada de gado) até o próximo ano.

Inclusão em índices dos EUA deve ajudar a reduzir o gap de valuation em relação aos pares americanos. A administração está conduzindo os procedimentos necessários para atender aos critérios relevantes para inclusão nos principais índices dos EUA (mais de 50% das receitas da JBS já são geradas nos EUA, e a empresa também está trabalhando para reportar totalmente em US GAAP). A FTSE US já incluiu a JBS, enquanto os índices Russell 1.000 e 3.000 devem adicioná-la em 2026. No longo prazo, S&P e CRSP também são alvos da companhia. O AuM dos fundos passivos que usam todos esses índices como referência totaliza aproximadamente US$30 trilhões.

Consumo global de proteína é forte, impulsionado pelo hype dos injetáveis GLP-1: Além da tendência de bem estar, parece que o hype dos injetáveis GLP-1 está impulsionando a demanda por proteína. Como os consumidores usam esse medicamento para perda de peso, também perdem massa muscular e precisam aumentar a ingestão de proteína para compensar esse efeito colateral.

A JBS não fornece guidance, mas distribuição anual recorrente de dividendos entre US$1,0 bi e US$1,2 bi é provável. Como o CFO Guilherme Cavalcanti mencionou várias vezes em teleconferências de resultados anteriores, a JBS deve manter sua distribuição anual de dividendos nessa faixa, dado seu sólido fluxo de caixa livre. Isso deve atrair interesse de grandes fundos de pensão, por exemplo, já que uma distribuição recorrente de dividendos pode ser uma entrada de caixa atraente para pagar aposentados.

Alavancagem abaixo de 2,5x permanece confortável com menor custo da dívida; maiores necessidades de capital de giro devido a efeitos inflacionários e maior estoque de grãos.

A JBS tem melhorado consistentemente seu grau de investimento nos últimos quatro anos e, como resultado, o gap do g-spread entre JBS e Tyson diminuiu significativamente (de 400bps em julho de 2019 para 20bps atualmente). Em relação às necessidades de capital de giro, entendemos que é esperado um aumento no segundo semestre de 2025, principalmente devido aos efeitos da inflação e ao aumento do estoque de grãos, já que a empresa aproveita os preços atrativos atuais (milho e soja).

M. Dias Branco (MDIA3; sem rating)

Rodrigo Ishiwa, Gerente de RI da M.Dias Branco (MDIA3) participou da J. Safra Investment Conference. Na percepção dos especialistas do Safra, não são esperadas grandes mudanças para este trimestre, seguindo um típico terceiro trimestre dentro do padrão sazonal. Após os recentes reajustes de preços, os volumes devem acelerar trimestre contra trimestre. No entanto, mesmo que os volumes permaneçam estáveis, o crescimento deve ser positivo ano contra ano (o Safra estima pelo menos 9% de crescimento no ano) devido a bases de comparação mais fáceis.

Além disso, os custos de insumos (em R$/kg) devem melhorar, beneficiando as margens brutas, mas maiores investimentos em marketing devem compensar isso, resultando em margem EBITDA estável no terceiro trimestre de 2025. Após as recentes mudanças na alta administração, a MDIA fez ajustes internos que devem contribuir para melhorar o alinhamento estratégico e impulsionar sua sólida execução. Como consequência, as equipes comercial e de supply chain melhoraram a comunicação para aprimorar a execução comercial com maior foco no sell-out, com preços relativos ajustados (o índice de aderência de preços melhorou de 43% em julho de 2024 para 85% em junho de 2025).

Entre outras correções de rota, a gestão de receitas está melhor calibrada com um cockpit de dados de mercado (melhor visão de market share, preço e penetração no PDV).

SLC Agrícola (SLCE3; sem rating)

Participaram da J. Safra Investment Conference pela SLC Agrícola (SCLE3) Alisandra Reis (Coordenadora de RI) e André Vasconcellos (Gerente de RI). As perspectivas para as safras de soja e milho em 2026 permanecem positivas, apoiadas por condições climáticas favoráveis e bons níveis de chuva. No entanto, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) emitiu alertas sobre a probabilidade crescente de um evento La Niña até o final de 2025.

Do lado da demanda, o consumo doméstico — especialmente de milho — cresceu significativamente, impulsionado pela expansão da produção de etanol à base de milho. Como resultado, os volumes de exportação diminuíram. Para a soja, a demanda da China continua forte e deve permanecer assim, já que o Brasil continua sendo uma alternativa atraente aos Estados Unidos.

Por outro lado, o algodão enfrenta um cenário mais desafiador, com expectativas de redução da produção no próximo ano e uma postura cautelosa da indústria têxtil. Além disso, os preços das commodities permanecem baixos, o que continua pressionando a rentabilidade da produção.

Camil (CAML3; sem rating)

Participaram pela Camil (CLML3) na J.Safra Investment Conference Flavio Vargas (CFO e Diretor de RI) e Jenifer Nicolini (Gerente de RI). Os preços mais baixos das commodities devem continuar pressionando os negócios da Camil como um todo, embora sua unidade de alto crescimento esteja mostrando melhorias interessantes. As perspectivas para a produção de arroz permanecem desafiadoras para a Camil no curto e médio prazo devido à relação estoque/uso.

Em 2026, a indústria de arroz deve continuar mostrando sinais de estabilidade (apesar do cenário difícil para o setor globalmente). Enquanto isso, o negócio de açúcar — que vinha sendo um detrator de margem — mostra sinais de progresso após anos desafiadores. O negócio de café da Camil também melhorou, já que a empresa conseguiu reverter o EBITDA próximo do breakeven, com uma compreensão mais profunda das condições de mercado. Como resultado, a Camil conseguiu melhorar suas estratégias de precificação (à medida que as condições de mercado também melhoraram) e o desempenho de volume.

O negócio de pescados tem melhor desempenho no segundo semestre do ano devido à sazonalidade, mas o mercado internacional (como o Chile) ainda enfrenta ventos contrários relacionados a desafios macroeconômicos. Portanto, a empresa está focada em melhorar a execução e ganhar participação de mercado em diferentes regiões com um portfólio diversificado.

3Tentos (TTEN3; sem recomendação)

Eduardo Motter, Gerente de Relações com Investidores, da 3Tentos (TTEN3), participou da J.Safra Investment Conference. Os fundamentos para volumes da empresa melhoraram. Em relação ao negócio de insumos agrícolas, os produtores localizados no estado do Mato Grosso já iniciaram o plantio e já receberam todos os insumos necessários.

Enquanto isso, os produtores do Rio Grande do Sul iniciaram seu processo de tomada de decisão, e os pedidos de insumos devem ser entregues entre o final de setembro e meados de outubro. Um ponto-chave de atenção, no entanto, é a disponibilidade de crédito, já que os produtores avaliam sua capacidade de rolar dívidas existentes para sustentar as operações. Caso isso não seja viável, outros produtores provavelmente assumirão essas operações, dado o cenário geral favorável.

No que diz respeito ao negócio de grãos, os volumes continuam aumentando, devido a uma safra forte (principalmente na Região Centro-Oeste), o que tem sustentado uma comercialização sólida de soja. A produção de milho também deve permanecer forte no terceiro e no quarto trimestre, conforme indicado anteriormente no guidance.

Esse movimento está sendo parcialmente impulsionado pela demanda da produção de etanol à base de milho. Por fim, no lado industrial, as margens de esmagamento de soja permanecem pressionadas, explicadas pela menor diferença entre os preços mais altos da soja comercializada e os preços do farelo de soja.

Enquanto isso, os contratos de biodiesel estão aumentando, impulsionados pelos preços do óleo vegetal, o que compensa parcialmente os resultados gerais. Olhando para frente, as margens devem ficar mais apertadas trimestre a trimestre, com recuperação esperada até o final do ano, à medida que a colheita nos EUA deve impulsionar os preços.

BrasilAgro (AGRO3; sem recomendação)

Ana Paula Zerbinati, Head de Relações com Investidores da BrasilAgro (AGRO3) e Deise Davanzo, Coordenadora de RI e Comunicação participaram da J.Safra Investment Conference.

As discussões focaram no momento atual da companhia e na estratégia de negócios. Atualmente, 47% da área cultivada da BrasilAgro é arrendada, enquanto 46% é própria. Considerando o ciclo agrícola atual, com margens mais apertadas pressionando os produtores, a companhia deve buscar novas aquisições de terras, o que não deve ser um problema, dado o cenário financeiro desafiador enfrentado por muitos produtores. Ainda assim, a gestão permanece cautelosa para garantir a seleção de ativos de qualidade.

O mix de receitas da companhia (aproximadamente 80% do EBITDA proveniente de soja e cana-de-açúcar – divididos igualmente) deve permanecer inalterado, pois esses negócios permitem estratégias eficientes de hedge, enquanto a cana-de-açúcar, em particular, se beneficia de contratos de longo prazo.

Quanto à estratégia de crescimento, a companhia deve continuar melhorando sua produtividade por meio da expansão das operações atuais, como na Bahia e no Piauí. Além disso, embora a empresa não opere atualmente com usinas de etanol, a crescente demanda desses clientes pode representar uma oportunidade interessante.

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